A tensão entre os presidentes da Argentina e do Uruguai foi o destaque na reunião virtual dos 30 anos do Mercosul. A relação entre EUA e China após entrevista de Joe Biden, a aproximação de China e Irã, a questão ambiental no mundo, o navio encalhado no canal de Suez, a pressão em Ernesto Araújo e o julgamento do policial que matou George Floyd são outros temas da nota internacional desta segunda-feira (29).
O Mercosul fez aniversário de 30 anos na última sexta-feira (26). Por conta da pandemia, não houve reunião presencial para marcar a passagem das três décadas do Tratado de Assunção. Houve reunião virtual e esta foi marcada por tensão e desarticulação entre os Estados parte do bloco. Com destaque para uma clara divergência e troca de farpas entre o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou. O uruguaio disse que o Mercosul não pode ser uma “carga” e Fernández respondeu que “se a carga é muito pesada, o mais fácil é descer do barco”. Algumas das principais insatisfações do governo uruguaio no bloco e com a qual o governo brasileiro concorda são a exigência de votações por consenso para negociações externas e a TEC (Tarifa Externa Comum) que taxa produtos fora do bloco. A Argentina está com a presidência pró-tempore do bloco e anunciou na reunião que vai criar dois observatórios, um sobre a democracia na região e outro sobre o meio ambiente. A questão ambiental é hoje o principal entrave para a efetivação do acordo Mercosul – União Europeia que passou mais de 20 anos sendo negociado. Nesta mesma semana, Fernández já havia demonstrado falta de alinhamento com a maioria dos integrantes do bloco ao deixar o Grupo de Lima, grupo de países que tentam desestabilizar o governo da Venezuela em acordo com os EUA.
Em sua primeira entrevista coletiva desde que tomou posse, no último dia 25, Biden falou que a China quer se tornar o “maior país do mundo, o mais rico e o mais poderoso do planeta”, mas que isso não vai acontecer em seu governo porque os EUA continuarão crescendo. Na sequência, o embaixador da China nos EUA, Cui Tiankai, foi entrevistado pela CNN e disse que “a meta de desenvolvimento da China é realizar a crescente aspiração do povo chinês por uma vida melhor”. Na sexta (26), o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, reforçou dizendo que “o objetivo da China nunca foi superar os EUA, mas superar continuamente a si própria para ser uma China melhor”. As entrevistas vieram após a tensa reunião em Achorage (Alasca), em que as autoridades dos dois países trocaram farpas e não conseguiram finalizar uma declaração conjunta. Um dos temas mais espinhosos hoje na relação entre os dois países e do ocidente em geral com a China tem sido a questão das supostas violações de direitos humanos em Xinjiang.
Enquanto isso, Biden avança na aproximação com Taiwan e assinou o primeiro acordo de cooperação com as autoridades da ilha desde que assumiu a presidência. No acordo está previsto um trabalho em conjunto com a Guarda Costeira taiwanesa. Como resposta, a China fez no final de semana a maior incursão com aeronaves militares na região de Taiwan desde setembro do ano passado. Foram enviados 20 aviões para a região do estreito que separa a ilha do continente e está bem claro que uma declaração de independência da ilha gerará uma guerra. É bom lembrar que são pouquíssimos os países que tratam Taiwan como um país independente da China. Os EUA têm se colocado cada vez mais a favor do separatismo de Taiwan contra a integridade territorial chinesa e são hoje os principais fornecedores de equipamentos militares para a ilha. A relação avançou muito sob a presidência de Trump, com a visita de altos funcionários do governo americano.
O final de semana também foi de aproximação entre China e Irã com a assinatura de um acordo de cooperação de 25 anos. Em uma cerimônia transmitida ao vivo pela TV iraniana, autoridades dos dois países se pronunciaram sobre o novo passo diplomático. Um dos resultados mais práticos do acordo será a integração do Irã no programa Iniciativa Cinturão e Rota da China com investimentos em infraestrutura. Mas o acordo também cobre a cooperação comercial, econômica e de transporte. O Irã tem sido um dos maiores fornecedores de petróleo para a China nos últimos meses. Enquanto a China afirmou recentemente que o Irã é uma de suas prioridades para o envio de vacinas.
Vai ocorrer nos dias 22 e 23 de abril a “Cúpula dos Líderes sobre o Clima”, um fórum virtual convocado pelo novo presidente dos EUA, Joe Biden. Cerca de 40 autoridades estão convidadas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro. O evento estará entre outras iniciativas que compõem o ambiente pré-COP26 que será em novembro em Glasgow, na Escócia. Durante a cúpula, espera-se que os EUA anunciem suas metas de emissões até 2030 em um novo alinhamento do país com o Acordo de Paris e o presidente Biden tem feito pressão para que os demais países também se pronunciem e mostrem como “contribuirão para uma ambição climática mais forte”. Lembremos que o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de GEE (Emissões de Gases de Efeito Estufa) em 37% até 2025 e 43% até 2030.
O Ever Given, que virou meme na internet na última semana, finalmente foi desencalhado. Para quem não acompanhou o drama, trata-se de um navio de transporte de contêineres de 400 metros de comprimento e 219 mil toneladas que ficou encalhado desde a última terça (23) até a noite de domingo (28) no Canal de Suez, no Egito, travando uma via de transporte marítimo que é vital para Ásia e Europa. O comércio mundial já vinha operando em dificuldade por conta da pandemia e toda complicação como essa só piora o cenário. O canal de Suez é uma passagem artificial que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Sua existência promove uma economia de 9 mil km de viagem marítima, pois faz com que as embarcações não precisem passar pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, mais precisamente na costa da África do Sul.
E no Brasil a situação não está muito confortável para o chanceler Ernesto Araújo. Após uma desastrosa aparição no Senado na semana passada, ele tem sido sistematicamente atacado e há indícios de que pode cair do cargo. No final de semana foi divulgada uma carta de 300 diplomatas da ativa pedindo sua demissão. O fato é inédito na história da diplomacia brasileira. O Itamaraty é conhecido como um dos órgãos mais corporativos da institucionalidade brasileira. Há também um pedido de senadores e deputados para que ele renuncie. Anteriormente ex-chanceleres brasileiros também já haviam feito uma carta demonstrando os malefícios da gestão Araújo para a política externa brasileira. Segundo o professor de relações internacionais, Guilherme Casarões, em seu twitter: “como esperar algo do sujeito que trata Trump como profeta do Ocidente, Bolsonaro como messias, Olavo como líder espiritual e Duduzinho como diplomata-chefe”? Piadas à parte, a responsabilização de Araújo pode vir também em decorrência de sua má vontade explícita no ano passado com a iniciativa Covax (fundo para vacinas), depois ingresso no fundo pedindo o número mínimo de vacinas que o Brasil podia pleitear, o não apoio a países parceiros como Índia e África do Sul na tentativa de quebra de patentes das vacinas para Covid, o prejuízo às relações com a China, Rússia e Índia que afetou na não aquisição de vacinas para os brasileiros, o uso do cargo para atacar medidas de isolamento social e uso de máscaras. Esses e outros argumentos estão na base do texto da bancada do PSOL na Câmara que pede o impeachment do ministro.
Começou em Minneapolis, nos EUA, o julgamento de Derek Chauvin, o policial que ano passado provocou a morte por asfixia de George Floyd, ao se ajoelhar sobre seu pescoço por 9 minutos. Certamente será um dos julgamentos mais importantes dos EUA no último período. Ainda hoje serão feitas as declarações iniciais da acusação e da defesa e começarão a ser ouvidas e interrogadas as testemunhas. Foram escolhidos 15 jurados entre 300 pessoas. Lembremos que Floyd era um homem negro de 46 anos e que em 25 de maio de 2020 foi abordado por 4 policiais soba a alegação de teria usado uma nota falsa de 20 dólares. Durante a abordagem ele foi imobilizado no chão e morto após o policial Chauvin pressionar o joelho sobre seu pescoço. Seu assassinato fez com Floyd se tornasse um símbolo do racismo estrutural dos EUA e da violência policial contra afrodescendentes. Na sequência de sua morte, mesmo com a pandemia, as ruas dos EUA foram tomadas pelos maiores protestos antirracistas dos últimos 50 anos e deu um impulso enorme ao movimento Black Lives Matter que havia nascido em 2013 por iniciativa de três mulheres ativistas negras.