Gabriel Rodrigues*
O fechamento das fábricas da Ford na Bahia, no Ceará e em São Paulo também podem ter impactos na indústria em Minas Gerais, embora menor do que o que está previsto nesses Estados – onde a empresa mantém cerca de 5.000 empregos.
Cerca de 10% do faturamento da produção mineira de autopeças é decorrente das vendas para Ford, fatia que fica comprometida a partir de agora, estima o diretor regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotores (Sindipeças), Fábio Sacioto, também diretor financeiro da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
“O que vejo é um risco de redução do faturamento das empresas com a Ford ao longo do ano. Imagino que, enquanto as outras montadoras se recuperarem da pandemia, as fornecedoras consigam compensar a produção com a demanda delas, em vez de demitir funcionários”, analisa Sacioto.
Ele lembra que a Ford ocupa cerca de 7% do mercado de vendas de automóveis no Brasil e que o vácuo deixado pela saída das fábricas tende a ser preenchido pela concorrência.
“Houve redução de 28% da produção no Brasil em 2020, em comparação a 2019, e a nossa expectativa é que o volume fosse recuperado em 2021, mas ainda vamos contabilizar o impacto do fechamento da Ford. Temos vários concorrentes dela no Brasil, então, se a Ford não produzir, outra empresa produz no lugar”, diz o diretor regional do Sindipeças.
O sócio da empresa de consultoria KPMG Ricardo Bacellar concorda que outras montadoras devem devorar a fatia disponível no mercado, como ocorreu após a Ford interromper a produção de caminhões. Bacellar pondera que as autopeças para os carros da Ford ainda serão necessárias após o encerramento das fábricas, já que ela promete manter o suporte e assistência técnica aos clientes brasileiros.
“Se peças e componentes continuarão a ser oferecidos para consumidores do país inteiro, não vai haver uma queda abrupta da demanda. Claro que os fornecedores deixarão de produzir para veículos novos, mas há toda uma frota de veículos Ford no mercado que precisa ser atendida. Isso tem um tempo de duração, porque, se a frota parar de ser alimentada com veículos novos, é natural que diminua”, afirma. Segundo o consultor, a tendência é que os veículos da marca sofram desvalorização após o fechamento das fábricas.
*Fonte: Jornal O Tempo
Foto: Sergio Figueiredo / Divulgação