Por Marcos Aurélio Ruy
Que o governo Bolsonaro e a maioria dos governadores estaduais agem contra os interesses da maioria da população, todo mundo já sabe. Basta lembrar a fortuna destinada a banqueiros pelo Ministério da Economia, durante a pandemia, e nenhuma atitude em relação à saída da Ford do Brasil, aumentando o já gigantesco número de desempregados, mais de 14 milhões, no país. Além do encerramento do auxílio emergencial, levando milhões à fome e nenhum projeto de superação da crise econômica que se aprofunda.
Agora chegou a vez do Ministério da Educação (MEC), repetir o que tem feito desde o início desse governo, atuando a favor dos interesses do mercado, dos barões da educação, contra o ensino público. E mesmo em meio ao crescimento vertiginoso da pandemia do coronavírus insiste em manter o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, “sem nenhum protocolo sanitário concreto e sem levar em conta as enormes dificuldades enfrentadas pelos estudantes de escola pública”, afirma Marilene Betros, secretária de Políticas Educacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Em todo o Brasil, estudantes, profissionais da saúde e da educação e a sociedade civil organizada, a Defensoria Pública da União e o Ministério Público defendem o adiamanto do Enem 2020, marcado para ocorrer neste domingo (17) e no próximo (24) em suja versão impressa. Nem os mais de 200 mil óbitos causados pela doença e os mais de 8 milhões de contaminados sensibilizam o governo da terra plana.
Além dos 5.783.357 candidatos confirmados, a realização do Enem 2020 envolve um grande contingente de pessoas para a aplicação das provas. “Os estudantes da escola pública não tiveram aula como deveriam, enquanto as escolas particulares tiveram todas as condições necessárias para o ensino remoto à distância”, assim, “a competição fica ainda mais desigual do que sempre foi”, destaca Marilene.
Para Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da central, “a CTB Jovem está na campanha pelo adiamento do Enem porque essa é uma etapa importantíssima para o sonho de entrar na universidade de milhões de jovens por todo o país e o não adiamento prejudica essencialmente os mais pobres, estudantes de escola pública”.
Principalmente por “não termos as condições sanitárias adequadas, que por si só bastaria para adiar e ainda tem o fato da desigualdade entre estudantes, exacerbada ainda mais durante a pandemia”, acentua. “Enquanto uns seguiram com aulas online, com acesso à internet de qualidade e equipamentos adequados, a esmagadora maioria não teve nenhuma dessas condições”.
Em manifesto conjunto, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) batalham pela campanha que está na internet #AdiaEnem. “O que se esperava, desde o início, era que o MEC estivesse na linha de frente, propondo e coordenando um Grupo de Trabalho, com ações estratégicas e investimentos que buscassem reduzir as desigualdades aprofundadas pela pandemia, seja no decorrer do ano letivo ou na realização da prova do Enem”, diz o manifesto.
E complementa: “Tanto essas medidas não aconteceram, quanto os números de contaminações e mortes por Covid-19 voltaram a crescer exponencialmente recentemente, o que ocasionou por sua vez o endurecimento em restrições de contato social em diversos estados, com novamente fechamento de estabelecimentos”.
Também o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defende o adiamento do exame, com um pedido dirigido ao ministro da Educação, Milton Ribeiro. O presidente do Conass, Carlos Lula afirma que “apesar dos jovens terem menor risco de desenvolver formas graves e tampouco estar prevista a vacinação da população com menos de 18 anos, o aumento da circulação do vírus nesta população pode ocasionar um aumento da transmissão nos grupos mais vulneráveis”.
Cerca de 45 entidades da sociedade civil assinam uma carta conjunta direcionada ao ministro e à população em defesa do necessário adiamento. Onde diz que “as condições de empobrecimento e exclusão social, intensificadas durante o último ano pela pandemia, não podem ser desconsideradas pelos gestores, dado seu impacto na vida escolar dos jovens brasileiros. Os argumentos sanitários são, portanto, reforçados pelas questões de âmbito pedagógico e educacional que apontam para a deterioração das condições de estudo no ensino médio e de acesso da maior parte dos estudantes brasileiros afetados de todas as formas, inclusive pela vulnerabilidade do atendimento educacional, no ano de 2020”.
“O Brasil ainda não começou a vacinação. Tem mais de mil pessoas morrendo por dia e as aglomerações continuam a ocorrer, muitas vezes incentivadas pelo atual presidente”, reforça Marilene. “Nesta situação é um ato de desumanidade realizar o Enem”.