Os Companheiros; a organização dos trabalhadores; filme

Por Carolina Maria Ruy

No fim do século 19, a indústria europeia crescia a todo vapor, e a exploração do trabalho operário não tinha limites. Foi neste contexto que, nas imediações de Turim, Itália, a chegada do professor Sinigaglia coincide com a data de um desastre que mobilizou os operários: um trabalhador, exausto devido sua carga de 14 horas diárias, descuida e perde um braço na máquina que operava. O fato faz os demais operários questionarem suas condições e, sobretudo, a jornada de trabalho.

Mas, sem experiência, aqueles trabalhadores não conseguem agir organizadamente, e a chegada de Sinigaglia os ajuda. Não foi por acaso que ele desembarcou naquela região industrial, conhecida pela degradação ao trabalhador. Seu objetivo era justamente organizar a classe trabalhadora e formar sindicatos.

O professor, então, começa se aproximar dos operários e a participar de suas assembleias. Com conhecimento teórico e eloquência ele se destaca como uma liderança. E orienta os demais a criar um fundo de greve, negociar, fazer piquetes e manter sempre o ânimo elevado. Mas suas teorias não funcionam e a situação fica cada vez mais caótica. Sem saída, Sinigaglia clama aos operários a ocupar a fábrica.

Num choque de realidade, o protesto tem um desfecho trágico. Fica a questão: as massas precisam de um intelectual, que venha de fora, sem experiência com o trabalho na fábrica, para aprender a se organizar?

O tom documental do filme insere-se no rescaldo do neorrealismo italiano do final da Segunda Guerra Mundial. Os Companheiros mostra situações reais. E o ponto crucial da crítica de Monicelli é conflito entre a tomada de consciência do operariado a partir de sua própria situação e a necessidade de um “instrutor” que venha de fora para organizar os trabalhadores.

Hoje, mais de quarenta anos após sua estreia, Os Companheiros ainda instiga um debate atual e procedente.

Os Companheiros (I Compagni)

Itália, 1963

Direção: Mario Monicelli

Elenco: Marcello Mastroianni, Annie Girardot, Renato Salvatori, Bernard Blier, Folco Lulli

Fonte: Livro ” O mundo do Trabalho no cinema”, Centro de Memória Sindical

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