O caso envolvendo a família de Patos de Minas (MG) que escravizou Madalena Gordiano, liberta no fim de novembro, aos 48 anos, após vizinhos denunciarem ao Ministério Público do Trabalho sua situação de miséria, ganhou novos capítulos nesta semana. Vanessa Maria Rigueira Pacheco, filha do professor Dalton Rigueira, pode ter usado a pensão que Madalena recebia de forma arranjada para custear o curso de medicina.
Aos 27 anos de idade, Madalena se casou com Marino Lopes da Costa, de 78 anos e irmão de Elvira, esposa de Dalton, apesar de jamais ter tido relação com o marido, um matrimônio fajuto organizado pela família.
Dois anos depois, Marino, ex-combatente de guerra, morreu. Madalena não foi em seu velório, mas passou a receber uma pensão que hoje ultrapassa R$ 8 mil, mas nunca fez usufruto do valor, que ficava sob a posse de Dalton.
Apesar de Madalena ter cursado apenas até a terceira série do ensino fundamental, proibida por Dalton de seguir com os estudos, a filha do professor universitário, Vanessa Maria Rigueira Pacheco, cursou medicina e exerce a profissão em Patos de Minas. O valor médio da mensalidade de Medicina em uma universidade particular é de aproximadamente R$ 4.800 reais.
O prefeito de Patos de Minas, Luís Eduardo Falcão, declarou que o contrato de Vanessa Maria Rigueira Pacheco não será renovado quando ela voltar da licença maternidade.
Relembre o caso
O Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal libertaram no último dia 28 de novembro Madalena Gordiano, de 46 anos, que vivia há 38 em situação análoga à escravidão, em um apartamento localizado no centro de Patos de Minas, Minas Gerais. A história comovente foi ao ar no programa Fantástico.
A história ganha ares ainda mais cruéis com a informação publicada no jornal Tribuna de Minas, que aponta um professor universitário como o homem que mantinha a mulher como escrava, em sua residência.
Madalena foi morar ainda criança na casa da professora Maria das Graças Milagres Rigueira que passou a escravizá-la. Como seu marido não gostava da criança, a educadora resolveu “doá-la” para Dalton Cesar Milagres Rigueira, também professor universitário.
A reportagem acrescenta que, na nova casa, nada mudou. Trabalho sem folga, de segunda a segunda, começando, normalmente às 4h da manhã, segundo relato de vizinhos.
Em depoimento à polícia, Dalton Rigueira disse que foi ela quem optou por largar os estudos e que ele não a incentivava a retornar porque “acredita que ela não se beneficiaria de receber educação”.
Ela vivia num cômodo do apartamento, sem ventilação ou janela.
Segundo a reportagem, Madalena se casou em 2001 com um tio de Valdilene Rigueira, esposa de Dalton Rigueira. Mas eles não chegaram a morar juntos. Ele era ex-combatente e deixou pensões para Madalena de, aproximadamente, R$ 8 mil.
Ela conta que ia ao banco com Dalton para sacar o dinheiro, mas que o “patrão” ficava com quase tudo. “Ele me dava duzentos, trezentos reais”.
A situação de Madalena só veio à tona quando ela começou a enviar bilhetes aos vizinhos em pedaços de guardanapo e folhas de caderno, pedindo pequenas quantias em dinheiro e produtos básicos de higiene pessoal. “Me empresta um sabonete para tomar banho. Você recebe minha oração. Madalena”, dizia um dos bilhetes.
Agora, Madalena tenta se adaptar à nova vida e fazer coisas simples, como ir ao parque e irá participar de uma video-chamada com as irmãs.
Fonte: Brasil 247