Por Railídia Carvalho
O médico e integrante do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Jorge Venâncio afirmou ao Portal CTB que a vacina é a melhor opção que existe para controlar a transmissão do novo coronavírus. Ele destacou a falta de vontade política do governo de Jair Bolsonaro, o que pode ser um obstáculo para se atingir uma vacinação significativa para controlar a transmissão: 150 milhões de pessoas devem ser vacinadas o que implica em 300 milhões de doses.
Jorge informou que a perspectiva de vacinas no primeiro semestre para o Brasil é de 188 milhões de doses, incluindo 46 milhões de doses da Coronavac, 100 milhões de doses da Oxford e mais 42 milhões de doses do consórcio Covax facility. Esse montante consegue atender 93 milhões de brasileiros, que seriam cobertos com as duas doses. “Vai ser um bom resultado chegar em junho com 93 milhões vacinados. Para chegar aos 150 milhões de brasileiros vai precisar do segundo semestre de 2021”.
“Conseguir tudo (150 milhoes de pessoas) no primeiro semestre é difícil”, explicou Jorge, que tem boas expectativas em relação à produção local da vacina. Fiocruz e Instituto Butantã estão preparando as instalações. De acordo com Jorge, em seis meses o Brasil pode estar produzindo uma boa quantidade de vacinas. “A Fiocruz deve começar com a instalação em maio e junho. No caso do Butantã há previsão de concluir a fábrica em setembro mas não houve anúncio de quando começaria a produção local”.
Governo na contramão
A campanha de imunização contra o coronavírus depende dos esforços do governo federal, disse Jorge. Mas o que se vê são ações que vão na contramão dos países no mundo. Ele comparou com a retomada econômica. “A questão chave é ter uma dose de investimento público e puxar a recuperação da economia mas o governo brasileiro faz o contrário”. No caso da vacina a situação é a mesma. “Funciona em todos os lugares do mundo mas aqui causa câncer, aids”, ironizou Jorge. “Já morreram 180 mil no Brasil e eles não se sensibilizam, não tem humanidade”.
Jorge completou que os movimentos sindical e social precisam fazer uma defesa da vacina. “É o mecanismo principal para proteger as pessoas no atual momento. Todos os dias morrem 500, 700 pessoas. Ontem (15) morreram mais de 900 pessoas. Alguma coisa precisa ser feita para diminuir essa situação”. Cabe aos movimentos desmascarar as mentiras espalhadas por bolsonaristas em torno da vacina, disse. “É uma situação desumana, eles mentem da forma mais descarada”.
O médico pede cautela em relação a busca por um emprego neste momento da pandemia. São mais de 14 milhões de desempregados no Brasil com uma curva ascendente. “Mesmo que seja possível sair com algum nível de segurança com máscara e higienização das mãos, as conduções estão muito cheias e não permitem o afastamento, por exemplo”. Ele reiterou que mesmo com a vacina essas precauções terão que continuar. “Sabemos que a vacinação impede casos graves e morte mas as pesquisas ainda não sabem se impede a contaminação.”