Por Railídia Carvalho
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) divulgada nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a taxa de desemprego no Brasil atingiu no terceiro trimestre o recorde de 14,6% resultando em 14,1 milhão de desempregados. No trimestre anterior a taxa foi de 13,3%. Em entrevista ao Portal da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o sociólogo e assessor do Fórum das Centrais Sindicais Clemente Ganz afirmou que o país corre o risco de nos primeiros meses do próximo ano atingir 20% de desemprego.
“E 14 milhões de pessoas desempregadas já é um contingente monstruoso”, definiu. Na opinião dele, a tendência é o desemprego continuar crescendo. Diante de um agravamento da pandemia e com o fim do auxílio emergencial e das medidas de proteção ao emprego, ele vê um cenário grave para 2021. “Corremos o risco de ter uma taxa (de desemprego) superior a 20%” que, segundo ele, pode ser viabilizada pela política anunciada pelo governo de ajuste fiscal e privatizações. Bolsonaro cortou o auxílio emergencial pela metade e o pagamento do auxílio que beneficia 30 milhões se encerra no final de janeiro.
Clemente criticou a falta de um projeto de desenvolvimento para o país por parte do atual governo. “Não há um projeto estrutural de desenvolvimento daí você fica fragilizado no sentido de perceber e apontar qual a estratégia a adotar em um momento de crise”. De acordo com ele, quando o governo de Bolsonaro nega a crise sanitária também nega a necessidade de se buscar uma estratégia econômica. “O que o governo atual fala é em um projeto de austeridade, diz que vai gastar menos e que vai vender tudo que é bem público”.
O governo federal atua no sentido oposto aos demais países do mundo, comparou Clemente. “O (Paulo) Guedes diz que é hora do ajuste enquanto o mundo diz que não”. Segundo Clemente é preciso retomar investimentos em infraestrutura econômica e social. “Retomar obras paradas, projetos novos de investimentos, ou seja colocar o setor produtivo mobilizado para retomar a atividade”. O equilíbrio fiscal só pode ser buscado quando a economia voltar a crescer, diz Clemente. “Fazer isso agora é caminhar para a depressão”.
A hora é de dar “tração na economia”, completou Clemente. “Quando você sustenta a renda na economia as pessoas vão consumindo. Isso anima a economia a manter os empregos, retomar empregos. Retirando o auxílio para a renda se consome menos, empresas produzem menos e precisam de menos empregos”. Clemente alertou ainda para a concentração de muita gente buscando se ocupar com qualquer coisa: “A tendência é ter postos de trabalho muito precários e vulneráveis”.