Pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (24) indica que 48% dos eleitores paulistanos pretendem votar em Bruno Covas (PSDB) e 40% em Guilherme Boulos (PSOL) no próximo domingo (29), quando ocorrerá o segundo turno das eleições para prefeito de São Paulo. Votos nulos e brancos somam 9% e 3% ainda não sabem ou não respondeu ao questionário.
O candidato da oposição, que conta com o apoio majoritário dos dirigentes das centrais e movimentos sociais e defende um programa afinado com as causas populares, avançou cinco pontos percentuais em relação à última pesquisa realizada pelo instituto e, segundo muitos analistas, pode vencer o pleito.
Boulos tem o apoio majoritário da juventude, que tem se mobilizado principalmente através das redes sociais e animado sua campanha, que também logrou resgatar o voto de muitos eleitores e eleitores que se abstiveram no primeiro turno.
O tucano Bruno Covas fez um governo pautado pelo ideal neoliberal de Estado mínimo, com privatizações, retrocesso nas regras da Previdência e restrição dos gastos públicos. Ele ganha entre os mais idosos e mais ricos, faixas em que mais se concentra o voto conservador e de direita.
A eventual vitória de Boulos – que conquistou o apoio Lula, Ciro Gomes, Flavio Dino e Marina – seria uma virada em São Paulo, onde o PSDB comanda a capital e o governo estadual, com forte repercussão nacional, revigorando a esquerda para lutas maiores. Uma virada de Manuela (PCdoB) em Porto Alegre reforçaria este efeito positivo. Ela também disputa com amplo apoio entre as forças de esquerda e centro-esquerda, inclusive de Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), Flavio Dino (PCdoB) e Marina (Rede).
A avaliação de André Singer
Apesar da dificuldade de o candidato Guilherme Boulos, do PSOL, vencer a eleição no segundo turno em São Paulo, no próximo domingo (29), a chance de vitória é real. A opinião é do cientista político André Singer, da Universidade de São Paulo. “Boulos tem uma aceitação mais ampla do que o setor inicial que o apoiava. Precisa ampliar bastante para ter condição de chegada”, disse Singer.
“A disputa é dura. Covas é prefeito, o PSDB tem tradição na cidade e há um eleitorado conservador importante em São Paulo. Não é fácil, mas é possível pensar em vitória”, agregou o cientista político, ao participar do programa Entre Vistas, da TVT.
Para ele, o caráter político de Boulos não pode se confundir com o “radicalismo” com o qual setores conservadores, de direita e extrema direita, querem identificá-lo. “Radical é o que vai à raiz das coisas. Boulos tem uma visão radical ao compreender que boa parte dos problemas contemporâneos se devem ao capitalismo. Mas não é ‘radical’, no sentido de que compreende que só se faz política construindo maiorias, e para isso tem que ser flexível.”
O analista entende que, com base na eleição municipal, ainda não é possível prever quais serão as forças que disputarão o poder no país em 2022. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha se saído mal em 2020, ele continua competitivo em termos eleitorais. “Primeiro porque é presidente da República. Em segundo lugar, porque, para surpresa de muitos, inclusive a minha, manteve apoio durante pandemia.”
Esse apoio popular se deve, em parte, ao auxílio emergencial, que vai vigorar até dezembro. Por outro lado, “o lulismo está de pé”, afirmou. Autor de Os Sentidos do Lulismo, Singer ressalta que, no cenário para 2022, há “a grande incógnita” sobre se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato, “o que faria muita diferença”.
Para ele, as eleições municipais mostraram vitórias de direita, de esquerda e de centro. Os três partidos que se saíram melhor (DEM, PSD e PP) “fazem parte da velha direita, são a velha Arena”, avalia Singer, em referência ao partido que reuniu os políticos que deram suporte civil à ditadura iniciada em 1964 e encerrada em 1985 no Brasil. A eleição de 2020 parece ser “um rearranjo” dentro da direita. “Bolsonaro se enfraqueceu, demonstrou não ser um homem de partido e fica mais dependente da velha direita.”
Com informações do Vermelho
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