Por Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Embora seja necessário aguardar a realização do segundo turno para uma avaliação definitiva das eleições municipais a mensagem proveniente das urnas eletrônica no domingo (15) sugere que o presidente Jair Bolsonaro é o grande derrotado. A maioria dos candidatos que apoiou não se elegeu e sua aposta na maior capital do país foi um completo fiasco.
Celso Russomano, que começou a campanha disparado na frente dos outros postulantes, terminou o pleito em quarto lugar, com 10,50% dos votos, abaixo de Márcio França (13,64%).
Bruno Covas, do PSDB, e Guilherme Boulos, do PSOL, disputarão o comando da cidade no segundo turno do pleito, em 29 de novembro.
É visível o emagrecimento da extrema direita, que ganhou força nas manifestações que precederam e respaldaram o golpe de 2016 e parece ter alcançado seu auge em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro, bem como de vários governadores e parlamentares que pegaram carona na onde bolsonarista.
Foi uma bolha, que pelo visto começa a desinflar. Dos 13 candidatos a prefeito apoiados direta e pessoalmente por Bolsonaro através de “lives” na internet nada menos que nove foram derrotados. De 45 candidatos a vereador em 27 cidades a grande maioria (35) não conseguiu se eleger.
Também no Rio é notável o esvaziamento do bolsonarismo associado ao desmascaramento do bispo Marcelo Crivella, um campeão nacional em matéria de rejeição, que embora na disputa pelo segundo turno, devido entre outros fatores à divisão da esquerda, não parece em condições de evitar a derrota para Eduardo Paes (DEM).
O falso pastor conquistou 21,9% dos votos no domingo. Ficou bem abaixo de Paes, que abocanhou 37,01% e agora deve contar com o apoio das candidatas do PT e PDT, Benedita Silva e Marta Rocha, que juntas tiveram mais votos que Crivella.
Na capital carioca, domicílio eleitoral do líder da extrema-direita, além do desempenho sofrível do atual prefeito convém destacar a diminuição da votação de Carlos Bolsonaro (Republicanos) em relação à eleição de 2016.
Há quatro anos, o controvertido filho do presidente, especialista em Fake News, teve 106.657 votos e foi o primeiro na lista. Neste ano, ele perdeu 35 mil votos e somou 71 mil. Ficou atrás de Tarcísio Motta (PSOL), o candidato à Câmara Municipal do Rio mais bem votado em 2020, com 86.243 votos.
Entre os partidos de esquerda, o PSOL foi quem registrou o crescimento mais expressivo. No chamado centrão, com tempero de direita, foi o DEM quem mais ganhou musculatura no domingo. Conquistou três capitais (Salvador, Curitiba e Florianópolis), é favorito no segundo turno carioca e lidera a pesquisa em Macapá, onde o pleito foi adiado por causa do apagão.
O resultado reflete recuperação e fortalecimento da esquerda, sinalizando para uma mudança na correlação de forças favorável ao povo e à classe trabalhadora. Está em sintonia com outros acontecimentos recentes no continente americano, como a vitória de Luiz Arce e Evo Morales na Bolívia, a aprovação da Constituinte com paridade de gênero no Chile e a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos.
Dá novo ânimo à resistência e luta para derrotar o governo Bolsonaro, barrar o retrocesso neoliberal e resgatar a agenda da classe trabalhadora por um novo projeto nacional de desenvolvimento com democracia, soberania e valorização do trabalho.