O setor automotivo ainda é o mais relevante do parque fabril do ABC, mas a outrora “galinha dos ovos de ouro” da economia regional já não é tão poedeira como antes. Prova disso é que, em dez anos, caiu a pouco mais da metade o total de trabalhadores empregados nas montadoras e fábricas de autopeças situadas na região.
É o que revela estudo publicado na 14ª carta de conjuntura do Observatório de Políticas Públicas e Empreendedorismo da Universidade Municipal de São Caetano (Conjuscs). Segundo o levantamento, que se baseia em dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria automotiva empregava 40,4 mil trabalhadores na região em agosto deste ano, contingente 47,1% menor que o existente em 31 de dezembro de 2010.
Do total de 40,4 mil postos de trabalho existentes no setor em agosto, 13,4 mil estavam nas montadoras de automóveis, 12,4 mil nas montadoras de caminhões e ônibus e 15,8 mil na produção de autopeças.
O setor automotivo foi o que mais sentiu o processo de desindustrialização que, nesta década, ceifou 91,3 mil empregos fabris no ABC. Entre as “vítimas” recentes estão a fábrica da Ford, que fechou as portas no ano passado após mais de meio século de produção em São Bernardo; e a sede administrativa da Toyota, transferida neste ano do mesmo município para Sorocaba.
Além das sucessivas crises que acometeram a economia do país, inclusive a provocada pelo novo coronavírus, a modernização e automatização das linhas de montagem, a desconcentração da produção de veículos e o aumento das importações de autopeças também explicam o derretimento de empregos.
Luis Paulo Bresciani, coordenador da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e um dos autores do estudo, também atribui a perda de vagas à queda na demanda interna, a partir de 2015, e à inexistência de políticas públicas voltadas para o setor produtivo.
“Tínhamos um movimento de expansão das capacidades instaladas no ABC, mas esse processo sofre um efeito cavalo de pau a partir de 2015, devido à queda na demanda interna”, lembrou Bresciani. “Além disso, falta um projeto nacional voltado ao fortalecimento da indústria. Nos setores automotivo e de petróleo e gás, por exemplo, tínhamos políticas de conteúdo local que acabaram revertidas”, prosseguiu, referindo-se ao programa Inovar Auto.
Metalmecânico
A situação é ainda mais dramática quando se analisa a indústria metalmecânica como um todo – que, além da cadeia automotiva, inclui os setores mecânico, de metalurgia, elétrico e de minerais não metálicos. Somadas, essas atividades perderam quase 63 mil postos nos últimos dez anos.
O estudo destaca que a indústria remunera os trabalhadores em patamar superior aos demais setores e, por isso, é determinante para a manutenção do mercado consumidor. Enquanto as fábricas pagam em média R$ 4.617 a seus trabalhadores, atividades como comércio, serviços e construção pagam salários médios na casa de R$ 2.870.
Bresciani destacou a necessidade de diversificação da atividade fabril no ABC como forma de reduzir a dependência das montadoras. “O setor automotivo deve continuar relevante por muito tempo, mas é preciso agregar inovação à nossa produção e conectá-la a demandas de infraestrutura nas áreas de saneamento básico e energia limpa. Mesmo no setor automotivo há oportunidades a serem exploradas, como no campo da eletromobilidade.”
Fonte: Diário Regional