Por Marcos Aurélio Ruy
A pandemia do coronavírus atingiu em cheio os sonhos dos cerca de 50 milhões de jovens brasileiros, revela a pesquisa Juventudes e a Pandemia de Coronavírus, feita pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). De acordo com o levantamento, 40% dos jovens perderam ou tiveram diminuída a sua renda durante a pandemia.
Por isso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresentam a iniciativa Um Milhão de Oportunidades, com a participação de dezenas de empresas, com o objetivo de atender adolescentes e jovens de 14 a 24 anos, principalmente os que mais precisam.
Para Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “iniciativas como essas por parte da sociedade civil, movimentos sociais e setor privado, são importantes”, mas “a medida é paliativa, uma vez que o problema das altas taxas de desemprego e informalidade entre a juventude são problemas estruturais do mercado de trabalho brasileiro”.
A pesquisa aponta ainda que 14% dos jovens declararam estar trabalhando com carga horária maior, 27% pararam de trabalhar. Mas a situação já vinha se decompondo antes da pandemia como revela a pesquisa Juventude e Trabalho, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV) Social.
Pelo estudo da FGV, os jovens de 15 a 29 anos perderam 14% da renda entre 2014 e 2019 e, para piorar, entre os mais pobres a perda foi de 24%. “O abandono das políticas públicas por mais educação, trabalho decente e aumento de renda para a juventude e a chamada austeridade fiscal promovida por Michel Temer e acentuada por Jair Bolsonaro são as principais causas dessa situação perversa para quem está iniciando no mercado de trabalho”, indica Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB.
Principalmente porque “a pandemia agravou a situação da juventude e aumentou o contingente dos que integram o trabalho precário, sem direitos trabalhistas e com jornadas extorsivas, como vimos nos protestos dos que trabalham como entregadores de aplicativos, na maioria jovens, recentemente”, afirma Luiza.
A pesquisa da FGV assinala um cenário onde se vê que 30% dos jovens perderam a perspectiva de melhoria de vida pelo trabalho. A frustração aumenta porque, segundo a pesquisa, o número de jovens que não estudam, nem trabalham passou de 23,4% em 2014 para 26,2% 2019.
“Nenhum país pode desenvolver-se sem atentar para as necessidades da juventude da cidade e do campo”, argumenta Vânia. “Devemos procurar fornecer esse auxílio anunciado pela OIT, qualificando inserção da juventude no mercado de trabalho, mas sempre tendo em vista de que a luta é mais ampla”, reforça Luiza.
Segundo ela, “devemos lutar por mais direitos, pela regulamentação do trabalho, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários, por políticas públicas que garantam a permanência do jovem até terminar seus estudos e lhes dê perspectivas de futuro”.
O levantamento do Conjuve traz dados reveladores sobre os efeitos da crise econômica na juventude, onde 73% contaram terem diminuído as atividades de lazer e cultura e 55% revelaram dificuldades para dormir no período da pandemia.
Os principais sintomas revelados são ansiedade (62%), tédio (57%), impaciência (54%), sobrecarga de trabalho (52%), exaustão e impotência (ambas com 50%). Além disso, 51% disseram sentir-se tristes e 48% assustados e inseguros.
Luiza destaca ainda o Pacto da Juventude 2020: Educação, Trabalho e Desigualdades, lançado em setembro, pela CTB Jovem como uma indicação da necessidade de “retomar o dinamismo econômico, o que significa mais ação do Estado para promover o bem estar social, combater as desigualdades e criar empregos”.
Para ela, “nestas eleições temos a chance de escolher representantes que estejam conectados com essa agenda e, com isso, consigam melhorar as condições de vida e de trabalho da nossa juventude”.