Em setembro, Datafolha apontava que 64% dos paulistanos não votariam em um candidato de Bolsonaro em hipótese nenhuma. Cenário atual confirma a tendência. Russomano percebeu o perigo e procura se afastar do presidente, dizendo-se favorável à Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pela China em parceria com o Instituto Buntatan
O derretimento de Celso Russomanno (Republicanos) e o aumento de sua rejeição, mostrados pelo Datafolha em pesquisa divulgada quinta-feira (22), eram previstos por analistas e apareceriam na medida em que o apoio do presidente Jair Bolsonaro ao candidato fosse se tornando claro para a opinião pública.
Russomanno caiu de 27% para 20% desde a última pesquisa (8 de outubro), antes da propaganda de rádio e TV. E sua rejeição cresceu impressionantes 17 pontos percentuais em um mês. Foi de 29% para 38% desde a pesquisa anterior, mas era de apenas 21% na penúltima.
Em 25 de setembro, o mesmo instituto de pesquisa apontava que 64% dos eleitores da capital paulista não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro em hipótese nenhuma. Apenas 11% (um em cada dez eleitores) votariam no indicado pelo presidente.
“Com certeza, a divulgação do apoio de Bolsonaro tem um peso no crescimento da rejeição de Russomanno”, disse Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas do Datafolha, em entrevista ao canal de TV por assinatura Globo News, após a divulgação do levantamento desta quinta. Segundo ele, o presidente é reprovado na capital paulista “principalmente em razão do seu desempenho no combate à pandemia e não necessariamente é um cabo eleitoral com muita fluência”
Em São Paulo, segundo o Datafolha do fim do mês passado, o governo Bolsonaro era avaliado por 46% dos paulistanos como ruim ou péssimo, enquanto 23% o consideravam regular e 29%, ótimo ou bom.
“Tradição”
Antes mesmo de a campanha começar, o professor Oswaldo Amaral, por exemplo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já antevia um cenário de derretimanto da candidatura Russomanno, inclusive pela forma como a pandemia foi abordada por Bolsonaro.
É preciso lembrar que ele foi candidato também em 2012 e 2016. Um político bom na largada mas medíocre e desastroso nas chegadas. Nas duas ocasiões começou na frente para ir despencando ao longo da campanha, a tal ponto que não conseguiu reuniões votos sequer para ir ao segundo turno.
Na ocasião, o analista da Unicamp apontava que a “tradição” das candidaturas do postulante do Republicanos era minguar e que ele tendia a “desidratar bastante”. A intenção de voto antes da campanha captava o chamado “recall”, a lembrança que o eleitorado tem do candidato.
Russomanno resolveu se afastar de Bolsonaro e indicou nesta sexta-feira (23) apoio à produção da vacina CoronaVac, produzida num convênio do Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech.
Coronavac
O candidato dos Republicanos já percebeu que a companhia de Jair Bolsonaro na campanha é uma fria e trata de se afastar do líder da extrema direita, que já não faz muito sucesso no eleitorado paulistano. Nesta sexta-feira (23) ele procurou mostrar divergência ideológica em relação ao chefe do Palácio do Planalto sobre a aquisição da Coronavac, vacina em estágio mais avançado no mundo .
“Se for aprovada pela Anvisa, sem problema nenhum. Sou totalmente favorável à vacina. Quero que ela fique pronta e quero tomar a vacina também”, disse Russomanno. Prometeu que, caso seja eleito, fará convênio com o Instituto Butantan para a compra da vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech
Movido pelo anticomunismo e o espírito de vira-lata, totalmente subserviente aos EUA, Jair Bolsonaro declarou que não vai comprar a Coronavac (vacina em estágio mais avançado no mundo) porque ela tem origem na China, que por sinal é a maior potência econômica do mundo e principal parceira comercial do Brasil. A razão do ódio irracional de Bolsonaro vem da circunstância de que a grande nação asiática, com 1,4 bilhão de habitantes, é dirigida pelo Partido Comunista
Segundo a mesma pesquisa Datafolha que apontava a rejeição de candidatos apoiados por Bolsonaro, 59% dos paulistanos afirmavam que não votariam de jeito nenhum em um nome apoiado pelo governador João Doria (PSDB). O candidato do PSDB à prefeitura, Bruno Covas, não está “herdando” esse desapreço dos paulistanos pelo governador porque tem tentado se “descolar” da sua imagem. E o apoio de Doria a Covas, por estratégia partidária ou não, não tem sido muito entusiasmado.
Com informações da RBA