O Produto Interno Bruto (PIB) da China subiu 4,9% em ritmo anual no terceiro trimestre deste ano, segundo informações divulgadas pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS).
A potência asiática, que já se transformou na maior economia do mundo e desde 2009 é a maior parceira comercial do Brasil, será a única entre as mais industrializadas que deve registrar uma taxa de crescimento positiva em 2020.
Recessão global
A pandemia do coronavírus, que teve início na China, agravou a crise econômica internacional e provocou uma severa recessão nos países capitalistas do chamado Ocidente.
O FMI prevê uma queda de 4,4% do PIB global. O tombo nos EUA deve chegar a 4,3%; no Japão, 5,3%; na Alemanha 6%; no Canadá, 7,1%; na França, 9,8%; no Reino Unido; 9,8%. O recuo no Brasil foi estimado em 5,8%.
A China, em contraste com este cenário de recessão global, deve crescer 1,9% se a estimativa da instituição for confirmada pelos fatos.
A China se destacou igualmente no combate ao novo coronavírus. Embora com cerca de 1,4 bilhão de habitantes registra até hoje menos de 5 mil mortes e pouco mais de 90 mil casos.
Saúde e economia
O governo comunista do país adotou medidas drásticas e imediatas para conter o avanço da doença. Salvar vidas foi a prioridade. Ramos considerados essenciais da economia como transportes foram paralisados e cidades interditadas.
No inicio, a iniciativa foi criticada no Ocidente por governos e observadores neoliberais. Mas o tempo não tardou a evidenciar a eficácia da estratégia que, mesmo tardiamente, foi copiada e reproduzida em todo o mundo. O custo econômico para os chineses não foi desprezível, mas a recuperação hoje surpreende os olhos do mundo.
A experiência chinesa mostrou que existe uma correlação entre o combate à doença e o desempenho das economias. Isto porque quem produz a riqueza não é o capital, é o ser humano ou, mais precisamente, o homem e a mulher trabalhadora.
O gigante asiático é o primeiro país a retomar a atividade econômica, graças a um “confinamento estrito, testes de detecção em larga escala e o acompanhamento dos casos de contato”, constatou o analista Ting Lu, do banco de investimentos Nomura.
Tragédia neoliberal
Os países cujos governos abordaram a crise com espírito liberal e negacionista, supostamente priorizando a economia em detrimento da saúde do povo, estão pagando um preço alto. Vivem não só uma tragédia sanitária, mas igualmente econômica.
Os EUA, cujo presidente menosprezou a doença e condenou o isolamento social, já somam mais de 220 mil mortes e deve concluir o ano com um PIB cerca de 5% menor que em 2019. Lembre-se, para efeito de comparação, que a infame e dolorosa guerra contra o Vietnã ceifou cerca de 58 mil vidas estadunidenses.
O Brasil sob Bolsonaro, com mais de 150 mil mortes e 5,2 milhões de casos confirmados, e a Índia liderada pelo neoliberal Narendra Modi, com 114,6 mil mortes e 7,5 milhões de pessoas infectadas, são dois outros exemplos trágicos.
A economia indiana vai encolher mais de dois dígitos neste ano (10,3%), a julgar pelo FMI. Em abril cerca de 122 milhões de indianos ficaram sem trabalho. O setor informal foi o mais atingido.
Transição
O desempenho da China, antes e durante a crise, revela a superioridade do sistema adotado pelo país, que os comunistas designam de socialismo com características chinesa, sobre o capitalismo neoliberal que vigora nos EUA, Europa e Japão, assim como num grande número de outros países capitalistas.
A divergência nas taxas de crescimento não é de hoje. Desde a revolução de 1949, comandada pelo Partido Comunista, a produção chinesa avança numa velocidade bem superior à dos EUA. Este desenvolvimento desigual foi acelerado pela política de abertura e reformas adotadas por Deng Xiaoping no final dos anos 70 do século passado, que fez a produção chinesa crescer a taxas médias de 10% ao ano durante bom tempo enquanto os EUA, com crises recorrentes de superprodução, evoluíam a um ritmo em torno de 2%.
O resultado deste sinuoso movimento, amadurecido ao longo de décadas, é visível hoje na crescente presença e liderança econômica da China pelos continentes, seja no comércio ou na promoção de investimentos diretos e indiretos no exterior e de projetos estratégicos como o Banco Asiático de Investimentos e o Brics. Isto conduz o mundo, espontaneamente, a uma transição na direção de uma nova ordem geopolítica.
Os imperialistas americanos não se conformam com esta trajetória objetiva dos fatos. Inventam todos os tipos de acusações e calúnias contra o gigante asiático, recorrem à guerra comercial e ao boicote tecnológico na vã tentativa de conter a ascensão da próspera nação asiática.
No momento estão seriamente empenhados numa cruzada anticomunista global contra Pequim e deixam transparecer a disposição de transformar a guerra que ainda é fria em guerra quente para interromper o que parece ser uma marcha implacável da história. Assistimos o conturbado ocaso da chamada Pax Americana.
É lastimável que o governo de Jair Bolsonaro, orientado por uma ideologia caduca embriagada pelo ódio anticomunista, submeta o Brasil à posição de peão do imperialismo no jogo de xadrez geopolítico entre EUA e China. O espírito de vira-lata que anima o presidente segue na contramão da história e atenta contra os interesses nacionais e os 10 princípios do Artigo 4º da Constituição, estabelecidos para orientar a diplomacia brasileira.
Umberto Martins, com informações da CartaCapital
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