Eleições decisivas agitam a América Latina em meio à pandemia

Em 18 de outubro os bolivianos vão às urnas no primeiro turno das eleições presidenciais. Se o resultado não for fraudado, a direita e os EUA vão sofrer um duro revés e o ex-presidente Evo Morales, deposto por um golpe de Estado em 2019, poderá saborear a vitória do seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo).

Além da Bolívia, outros países terão eleições em um contexto social e econômico incerto marcada pela crise sanitária e econômica

A pandemia do coronavírus restringe as campanhas e os movimentos das canditaturas. A região vive, concomitantemente, uma conjuntura econômica deprimente. O impacto da crise econômica e sanitária no pleito é incerto. Pesa também o cenário geopolítico global, marcado pelo acirramento das tensões entre EUA e China com notórios impactos no continente americano.

Analistas em geral acham que a pandemia contribuirá para a ascensão de novas lideranças. O papel da internet e das mídias sociais na comunicação com os eleitores ficou ainda mais relevante.

Pobreza

Quarenta e cinco milhões de pessoas estão em risco de pobreza como consequência da pior crise econômica vivenciada pela América Latina em 100 anos, alavancada por uma pandemia que já custou mais de um milhão de vidas. Antes da covid-19, a região já era a mais desigual do mundo. O vírus não só voltou a colocar essas desigualdades em primeiro plano. Organizações multilaterais e especialistas concordam que a situação irá piorar.

Além disso, a riqueza, medida como o Produto Interno Bruto (PIB), deve cair 9,4% neste ano, se forem confirmadas as projeções do Fundo Monetário Internacional, e para 2021 o crescimento será de somente 3,7%. Todos os prognósticos econômicos são preliminares e não seria estranho que piorassem. Cada dia que passa em que trabalhadores permanecem em casa para evitar o contágio, é um dia de salário e sustento perdido. O pesadelo do desemprego está tirando o sono de dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhdoras.

Bolívia

Em 18 de outubro, a Bolívia será o primeiro país a votar ―em primeiro turno― por um novo presidente e um novo Congresso, em eleições já duas vezes adiadas pela contingência do coronavírus. O país foi alvo de um golpe de Estado em 2019, planejado pelos EUA com o apoio das oligarquias nativas e da OEA.

O índio Evo Morales, que promoveu notáveis transformações econômicas e sociais e assegurou prosperidade econômica e social ao país, foi derrubado e deportado. Os golpistas prenderam e assassinaram muitos oposicionistas, mas não têm apoio popular. As pesquisas indicam que devem perder as eleições. O desafio da oposição é evitar a fraude.

Chile 

Uma semana depois, o Chile realizará um plebiscito nacional em que a população decidirá sobre uma nova Constituição. O pleito é uma vitória do povo chileno, protagonista de grandes manifestações de rua para exigir a mudança do regime autoritário, embora aparentemente liberal, legado pelo general fascista Augusto Pinochet.

O repúdio ao neoliberalismo é notório. Sob a ditadura militar, o país serviu de laboratório das políticas neoliberais nos anos 70 do século passado. O ditador acabou com o sistema público de aposentadoria e impôs o regime de capitalização gerido pelos bancos. A maioria dos que se aposentaram pelo sistema privado, sonhado pelo ministro Paulo Guedes, agora recebe benefícios equivalentes a um terço do salário mínimo.

Brasil e Venezuela

Em 15 de novembro, os brasileiros vão às urnas para o primeiro turno das eleições municipais. O Brasil, assim como Chile, Equador, Peru e Honduras, realizará eleições para presidente em 2022. Também deve ocorrer o mesmo na Nicarágua. Estão previstas eleições de meio de mandato no México, Argentina e El Salvador, onde o poder central será colocados à prova em pleitos parlamentares e locais.

A Venezuela convocou eleições legislativas para 6 de dezembro. Parte da oposição ainda aposta no golpe contra Maduro e no patético Juan Gaidó e não quer participar. As eleições tendem a fortalecer o poder dos revolucionários chavistas.

Desigualdade e compra de votos

Um relatório recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aponta a desigualdade como um catalisador da compra de votos. O BID cita uma pesquisa de 2017 que sugere que a compra de votos é “um fenômeno predominante em muitas democracias da América Latina” e acrescenta: “A compra de votos como estratégia eleitoral é mais comum em países onde as promessas das campanhas têm credibilidade baixa, como no caso das democracias da América Latina onde os partidos políticos são frágeis”.

Dado que os eleitores mais pobres são mais suscetíveis à compra de votos, diz o BID, esse tipo de distribuição de recursos pode se transformar em um substituto do estado de bem-estar.

República Dominicana

No Chile e na Bolívia as eleições já foram postergadas duas vezes alegadamente em função da pandemia. A República Dominicana é, até agora, o único país que teve eleições durante a pandemia, em um processo em que o candidato de oposição, Luis Abinader, ganhou a eleição com 52,5% dos votos, após se infectar pelo vírus três semanas antes da votação.

No caso da Bolívia, há um grande temor de que exista fraude porque o governo, instalado através de um golpe de Estado engendrado nos EUA, está pedindo que o Exército e a polícia participem e colaborem com o Tribunal Eleitoral com o pretexto de garantir as eleições.

“Isso não ocorria antes e pode ser um problema, pode acontecer o contrário, pode afetar o resultado, pode eclipsar. Acho que isso também pode se repetir em outros países com o pretexto da segurança das eleições de envolver o Exército e fazê-las de alguma maneira que não sejam tão transparentes”, observou ao El país Diego Von Vacano, professor de Ciências Políticas e Estudos Latino-americanos da Universidade Texas A&M.

Se inscreva no nosso canal no YouTube /TVClassista