Por Francisca Rocha
Não poderia deixar passar sem uma resposta a declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo de que “hoje, ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”.
Deplorável uma afirmação dessas do ministro no comando do Ministério da Educação (MEC). Nenhuma surpresa, no entanto. Em se tratando de alguém defensor de castigos físicos em crianças como sistema pedagógico não é de se esperar outra coisa.
O responsável pelo MEC esquece da degradação profissional a que estamos submetidos e das constantes perseguições e tentativas de liquidar com a liberdade de cátedra por integrantes desse governo, declaradamente inimigo da educação pública.
Ribeiro esquece também de que a atividade docente no Brasil está entre os piores salários do mundo como atesta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Portanto não temos uma carreira nem um pouco atraente para quem está ingressando no mercado de trabalho.
O piso salarial dos professores está em R$ 2.886,24 e ainda por cima a maioria dos estados e municípios não paga o piso. Com a pandemia a nossa situação que já era degradante ficou pior.
O governo federal cada vez mais restringe o orçamento do MEC e insufla constantes ataques às professoras e professores. Não respeita ninguém.
A importante vitória que os docentes, estudantes e toda a sociedade conseguiu com a aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), tornando-o permanente e com mais recursos destinados pela União, está na sala de espera da regulamentação e o presidente insinua tirar recursos do Fundeb para outras utilizações.
Somos desrespeitados continuamente por governantes sem compromisso com a melhoria da educação pública. Querem minar toda a nossa resistência. E acabar com a nossa dedicação em elevar o patamar da educação para não termos nenhuma pessoa em idade escolar fora da escola e combater tenazmente o analfabetismo.
Lutamos por uma educação pública, gratuita, com qualidade social, laica, inclusiva e democrática. Lembrando que a educação é um direito humano e constitucional e o governo federal e diversos governantes esquecem esses preceitos e querem privatizar, sem levar em conta que a educação é uma aérea estratégica para o desenvolvimento nacional com soberania e independência.
Além do mais, enfrentamos escolas sucateadas, salas superlotadas, baixíssimos salários e nenhum plano de carreira. E mesmo com todas essas condições nefastas, ser professor hoje no Brasil é um ato de resistência ao obscurantismo e à ignorância. É um ato de amor à vida e ao país.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, seção São Paulo (CTB-SP).