Por Luis Nassif
O único movimento bem sucedido da estratégia comercial de Trump foi com o Brasil. Graças a uma paixão indisfarçada de Bolsonaro por ele, não se exigiu nenhuma contrapartida ao produtor brasileiro.
Donald Trump foi eleito prometendo apoio total à economia americana. Passou a impor exigências draconianas a parceiros comerciais, visando reduzir os desequilíbrios comerciais bilaterais.
No entanto, os acordos comerciais que realizou representaram um desastre continuado. O único acordo vitorioso foi com o Brasil, devido ao fato de Jair Bolsonaro não ter exigido nenhuma contrapartida para as concessões feitas aos produtores agrícolas americanos.
Ex-economista-chefe do Banco Mundial, Anne Krueger traçou um quadro cruel dos fracassos de Trump.
Lembrou ela que, no pós-guerra, o mundo experimentou um período inédito em saúde, educação, padrões de vida, redução da pobreza e da riqueza sob a liderança dos Estados Unidos na criação e administração de um sistema de comércio multilateral aberto.
O sistema surgiu com o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio e, depois, na Organização Mundial do Comércio definindo um sistema internacional de direito sobre o tema.
O ritmo de crescimento do comércio passou de 20% do PIB global nos primeiros anos do pós-guerra, para 39% em 1990 e 58% em 2018.
A eleição de Trump reverteu esse movimento.
Seu objetivo inicial era reduzir os desequilíbrios bilaterais comerciais dos EUA. Nesse período, o déficit comercial geral dos EUA passou de US$ 750 bilhões em 2016 para US$ 864 bilhões em 2019 e atinge o nível mais alto desde 2008.
As exportações americanas para a China aumentaram apenas 1,8% ao ano até agosto de 2020, enquanto as exportação chinesas para os EUA aumentaram 20%.
A guerra comercial prejudicou ambos países. Os consumidores americanos pagaram mais pelos produtos chineses e os EUA tiveram que pagar US$ 28 bilhões em compensação aos agricultores americanos. Muitas empresas americanas perderam competitividade e mercado, com o encarecimento dos insumos chineses. E muitos produtos americanos perderam o mercado chinês, com o aumento das tarifas de importação da China em reação ao protecionismo trumpiniano.
Incorreu em novos erros na renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e do Acordo de Livre Comércio EUA-Coreia (KORUS). Os acordos deveriam abordar a nova economia digital. Esse tema havia sido incluído por Barack Obama na Parceria Transpacífico (TPP), que Trump abandonou assim que assumiu. Os membros restantes do acordo original hoje em dia se beneficiam de acesso recíproco isento de impostos, enquanto os EUA estão sujeitos a tarifas mais altas.
Essa falta de sincronização nos acordos prejudicou a produção agrícola do país. No início, as vendas de trigo para o Japão foram beneficiados pelo TPP. Com o novo acordo, o CPTPP, exportadores canadenses e australianos conseguem mais isenção do que os EUA nas vendas para o Japão. Recentemente, Japão e União Europeia fecharam um acordo de livre comércio eliminando impostos sobre automóveis e outros bens.
Finalmente, ao bloquear novos juízes nos tribunais de apelação da OMC, Trump ajudou a enfraquece-la ainda mais.
Conclusão: o único movimento bem sucedido da estratégia comercial de Trump foi com o Brasil. Graças a uma paixão indisfarçada de Bolsonaro por ele, não se exigiu nenhuma contrapartida ao produtor brasileiro.