Uma viagem para provocar a China e a Venezuela com apoio do Itamaraty

O turismo que o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, programou para a América do Sul neste final de semana, incluindo uma passagem pelo Brasil, tem o claro propósito de provocar a China e a Venezuela.

A embaixada chinesa no Suriname acusou o secretário nesta sexta-feira (18) de “difamar” Pequim depois que o diplomata mais graduado de Washington criticou as práticas de empresas chinesas durante a primeira parada de sua viagem a quatro países sul-americanos.

Anticomunismo

Em um evento conjunto com o recém-eleito presidente do Suriname, Chan Santokhi, na quinta-feira, Pompeo contrastou “a qualidade dos produtos e serviços de empresas privadas americanas” com os de empresas chinesas, que ele disse nem sempre competirem em uma “base justa e igualitária”.

“Vimos o Partido Comunista Chinês investir em países, e tudo parece ótimo na fachada e depois desmorona quando os custos políticos conectados a isso se tornam claros”, disse Pompeo.

Seus comentários vieram depois de uma série de descobertas de jazidas de petróleo no litoral do Suriname, cujos laços comerciais com a China cresceram no governo do presidente anterior, Desi Bouterse, que tentou se reeleger num ambiente marcado pela econômica mas perdeu para Santokhi no início do ano.

A China na AL

A China fez empréstimos e investimentos de grande porte na América Latina (AL), rica em recursos, principalmente durante o boom de décadas das commodities que durou até 2014.

Em seu comunicado, a embaixada chinesa de Paramaribo disse: “Qualquer tentativa de plantar discórdia entre a China e o Suriname está fadada ao fracasso.”

“Aconselhamos o senhor Pompeo a respeitar os fatos e a verdade, a abandonar a arrogância e o preconceito, a parar de difamar e espalhar rumores sobre a China”, disse a embaixada.

Espírito de vira-lata

Na quinta-feira, Santokhi disse aos repórteres que o relacionamento do Suriname com a China não foi um tema de conversa em sua reunião com Pompeo. “Não é uma questão de fazer escolhas”, disse.

O caráter imperialista da ação do secretário americano transparece nos fatos e é contrária aos interesses dos países sul-americanos. Contudo, embriagado pelo anticomunismo, o governo Bolsonaro atrelou a política externa brasileira aos interesses de Washington e mantém uma postura agressiva e hostil à Venezuela e inclusive à China, que desde 2009 é a maior parceira comercial do Brasil.

A conduta do governo traduz o que o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues caracterizava como “espírito de vira-lata” nas relações com a grande potência imperialista. É contrária à tradição do Itamaraty e aos princípios que, de acordo com o Artigo 4 da Constituição brasileira, devem orientar a política externa brasileira.

Repúdio

O Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela divulgou uma nota de repúdio à presença de Mike Pompeo no Brasil. Leia a íntegra abaixo:

O Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela vem a público manifestar sua indignação e veemente condenação pela presença de Mike Pompeo, secretário de Estado do governo de Donald Trump em território brasileiro, na capital de Roraima nesta sexta-feira (18 de setembro), acompanhado pelos chefes das forças armadas brasileiras e estadunidenses numa perigosa e grosseira provocação contra a República Bolivariana da Venezuela.

A presença de Mike Pompeo em nosso território configura mais um capítulo da agressão e provocação do governo dos Estados Unidos contra o povo venezuelano, fazendo do Brasil seu cúmplice desta agenda militarista, nos colocando na contramão da paz e do diálogo com os nossos vizinhos. Os governos de Brasil e Estados Unidos deveriam focar suas energias e Forças Armadas em combater seus próprios problemas nacionais em vez de gastarem recursos públicos para promover suas agendas de ódio e violência.

Esta nefasta presença do representante da potência estadunidense conta com a serviçal colaboração do governo de Bolsonaro à Trump e sua política de desestabilização e imposição do terror no país vizinho.

Bolsonaro comporta-se como mero funcionário de Trump justamente no período de campanha eleitoral nos Estados Unidos, onde Donald Trump dobra a escalada de violência para poder incensar o nacionalismo de sua base eleitoral de extrema-direita, buscando fazer dos ataques contra a Venezuela a sua bandeira para a reeleição.

O alinhamento e cumplicidade do governo de Bolsonaro a essa política de provocações do imperialismo estadunidense significa gravíssima ameaça à paz e a tentativa de arrastar o povo brasileiro a uma situação de conflito armado que imporia enormes sofrimentos aos brasileiros e povos irmãos. A postura do governo Bolsonaro terá do povo brasileiro a denúncia e condenação. O governo Bolsonaro protagoniza mais um vexame internacional e nacional, em total desrespeito à Constituição brasileira, pois renuncia a nossa soberania e abandona os princípios de cooperação e resolução pacífica dos conflitos regionais.

O povo brasileiro também manifestará nesta ocasião a amizade e solidariedade com o povo irmão da Venezuela. Esta é a única resposta capaz de deter e silenciar os tambores da guerra e fortalecer a paz na América Latina. O Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela convoca toda a sociedade brasileira a denunciar a submissão do governo Bolsonaro à agenda agressiva e militarista dos Estados Unidos, é urgente a nossa mobilização, manifeste-se assinando a declaração pela paz e contra a guerra na Venezuela: www.change.org/PazNaVenezuela

Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela