Por Anderson Pereira
A falta de uma política nacional de enfrentamento ao novo coronavírus, aliado ao comportamento irresponsável do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que insiste em não usar a máscara e ainda promove aglomerações, contrariando, assim, as normas internacionais de saúde, colocaram o Brasil entre os países com o maior número de trabalhadores mortos por Covid-19 em todo o mundo.
A avaliação é da coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador, Marta de Freitas. “Falta um Programa Nacional de Saúde, isto é, que leve em conta a participação dos governos municipais, estaduais e federal. A União continua omissa”, afirma ela.
O Brasil registra atualmente 134.935 mortes por Covid-19 e quase 4,5 milhões de pessoas infectadas. O país está entre os três com os maiores números de casos em todo o mundo, ao lado da Índia e dos EUA.
Já entre os países com o maior número de mortes entre enfermeiros por Covid-19, o Brasil ocupa o triste primeiro lugar. A doença já matou cerca de 400 trabalhadores, confirma Marta de Freitas. Em Belo Horizonte, a situação também é preocupante. Um estudo divulgado pela Prefeitura da capital revelou que o vírus atinge principalmente os trabalhadores da saúde, do transporte e das padarias.
“A Covid-19 mostrou a falta de política de saúde para o trabalhador. Também nos mostrou que precisamos valorizar e investir cada vez mais no SUS e não cortar recursos como quer o atual governo Federal”, ressalta Marta de Freitas.
Ela refere-se ao orçamento para o próximo ano destinado ao Ministério da Saúde. O governo ameaça cortar R$ 35 bilhões para a pasta. O texto deve ser votado nos próximos meses pelo Congresso Nacional.
Marta de Freitas também cobra a derrubada da Emenda Constitucional de número 95, que ficou conhecida como a “PEC da morte”. Essa medida congelou os investimentos públicos no Brasil por 20 anos.
Vacina
Desde o início da pandemia, países de todo o mundo deram início a uma verdadeira “corrida” para tentar descobrir uma vacina capaz de imunizar a população. Recentemente, a Rússia anunciou uma vacina capaz combater a Covid-19.
Marta de Freitas avalia como positiva essa descoberta e, ao mesmo tempo, lamenta que o governo brasileiro ainda não tenha definido uma política nacional de vacinação.
“A vacina será para todos os brasileiros ou só para determinados grupos? Ela será obrigatória ou não? Será preciso pagar por ela, assim como acontece com determinadas vacinas? Qual é a sua eficácia?”, pergunta ela. Para a especialista, ainda há muitas dúvidas que precisam ser esclarecidas.
Quanto às medidas de distanciamento social e o uso de máscaras, Marta de Freitas é categórica ao afirmar ser favorável. Ela lembra que, em vários países do mundo, já existem relatos de uma “segunda onda” da doença com casos de reinfecção. “Por isso, sou contra a volta às aulas neste momento, como querem os donos das escolas particulares”, destaca ela.
Outro drama apontado por ela são as sequelas deixadas pela Covid-19.
“Temos relatos de casos de insuficiência renal, trombose e problemas respiratórios graves. Sem contar os casos de adoecimento mental. Estima-se que 1 em cada 16 trabalhadores desenvolverão problemas mentais”, alerta ela.
Fotos: Andre Penner e Saulo Ângelo
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