Allende, “o presidente” cultuado nas poblaciones

Conta Gabriel Garcia Márquez  em “ A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile(*)”, que o nome de Salvador Allende  é uma lembrança muito viva e o culto à memória do ex-presidente chileno alcança uma dimensão mítica nas poblaciones (enormes bairros marginais nas maiores cidades do Chile – cujos habitantes curtidos pela pobreza desenvolveram uma assombrosa cultura de labirinto).

No capítulo dedicado a Allende, destaque entre as grandes personalidades do século XX, narra que “o presidente” ( conforme era chamado pelo povo) já havia disputado eleições presidenciais umas quatro vezes sem ser eleito. Daí afirmava que o seu epitáfio seria: “ Aqui jaz Salvador Allende, futuro presidente do Chile”.

De outra feita, já eleito presidente, assistiu uma grande manifestação liderada por um homem que fez questão de se situar à frente do palanque e bem defronte ao presidente com um cartaz insólito que afirmava: “Este é um governo de merda, mas é o meu governo”. Allende se levantou, aplaudiu e desceu para apertar sua mão.

Allende, um revolucionário, socialista, foi vítima do golpe militar liderado por Augusto Pinochet e comandando do exterior pela CIA. Foi um grande homem e nos deixou grandes lições.

A parte final do capitulo “DOIS MORTOS QUE NUNCA MORREM: ALLENDE E NERUDA”, ficou assim descrito: “Mas o que perdura na memória das poblaciones (do  povo pobre) não é tanto a sua imagem, e sim a grandeza de seu pensamento humanista. ‘ Não nos importa a casa nem a comida, e sim que nos devolvam a dignidade’, diziam. E mais concretamente:

– A única coisa que queremos é o que nos tomaram: voz e voto”.

João martins

*Miguel Littín – cineasta chileno exilado pela ditadura de Pinochet, que retorna ao Chile, clandestinamente,  em plena ditadura,   com três equipes de filmagens (francesa, holandesa e inglesa) e que durante 6 semanas produziu um documentário sobre a situação de seu país, filmando cenas  inclusive no palácio “La Moneda”.

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