Por Francisca Rocha
Retomar as aulas presenciais sem o controle efetivo da pandemia do coronavírus é um verdadeiro crime. Estudo desenvolvido pelo grupo Ação Covid-19 e a Rede Escola Pública e Universidade aponta que mesmo com todos os protocolos mais rígidos a volta às aulas presenciais causaria a contaminação de pelo menos 46,35% dos estudantes e profissionais da educação.
De acordo com o estudo, apenas 6,86% dos estudantes poderiam estar presentes para garantir a segurança da comunidade escolar. Sem falar sobre o transporte coletivo caótico na Região Metropolitana de São Paulo, com mais 13 milhões de pessoas, entre estudantes e profissionais da educação, nas ruas.
Inclusive, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc) programou um retorno às aulas presenciais já para 8 de setembro, segundo o secretário Rossieli Soares, de modo opcional.
Ainda de acordo com ele as escolas deverão garantir todos os protocolos de segurança sanitária. Mas os países que retomaram as aulas tiveram que retroceder e fechar as escolas novamente em condições piores de contaminação.
Além disso, segundo o telejornal SPTV1, da Rede Globo, o governo de São Paulo diz que pagará um acréscimo para os profissionais que aceitarem trabalhar presencialmente como forma de pressionar a adesão das trabalhadoras e trabalhadores.
Essa retomada das aulas presenciais de modo parcial e opcional é uma clara forma de pressionar a população, profissionais e os estudantes ao retorno, contrariando todas as indicações científicas de só retornar com a pandemia efetivamente controlada ou a existência de uma vacina de ação comprovada.
No artigo 7º da portaria, a Seduc garante que “as unidades escolares da rede estadual poderão receber presencialmente até 20% dos alunos matriculados a cada dia, independentemente da etapa de ensino”, quando o recomendado é menos de 7%.
Estudo da Universidade de Granada, na Espanha, mostra que um grupo de 20 crianças numa creche, entra em contato com mais de 800 pessoas em dois dias. Assim como estudos relatam que crianças podem carregar o vírus sem sentir os sintomas por muitos dias e assim contaminar familiares.
Basta ver os resultados da volta às aulas presencias na Coreia do Sul, país muito mais rigoroso que o Brasil nos protocolos de segurança sanitária e mesmo assim muitas escolas tiveram de fechar após o crescimento de contaminação pelo coronavírus. Nos Estados Unidos foi ainda pior. Após o início das aulas presenciais a contaminação cresceu 90% entre as crianças e jovens.
Por enquanto, as aulas presenciais em São Paulo estão previstas para o dia 7 de outubro. Mas os especialistas apontam para o perigo desse retorno. Porque teremos milhões a mais de pessoas circulando nas cidades, no transporte coletivo caótico da Região Metropolitana de São Paulo. Somente aí o risco é enorme.
Também é preciso alertar sobre a precariedade das nossas escolas com um governo que privilegia o repasse de verbas públicas a organizações sociais (empresas), que visam lucro e, portanto, destinam seus trabalhos a uma minoria nas proximidades do centro, nunca na periferia, onde está o maior número de contaminação, como comprovam as estatísticas.
Além disso, sabemos bem da superlotação das salas de aula e que dificilmente o estado terá todos os equipamentos necessários para garantir a segurança sanitária das crianças e jovens e dos profissionais. No Amazonas, centenas de professoras e professores foram contaminados com o retorno às aulas presenciais.
Lembrando sempre que no Brasil já morreram mais de 120 mil pessoas pela Covid-19 e estamos perto de 4 milhões de contaminados com as escolas fechadas. Imagine o retorno às aulas presenciais nas condições existentes no país sem coordenação nacional de combate ao coronavírus, sem protocolo nenhum de segurança sanitária e com um presidente que não se importa com a vida das brasileiras e brasileiros.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, seção São Paulo (CTB-SP).