Por Táscia Souza
Agosto se encerra hoje (31), mas é preciso que o roxo/lilás que coloriu o mês no combate à violência contra a mulher não se esmaeça com ele. No dia 17, o coordenador da Secretaria de Secretaria de Defesa dos Direitos de Gênero e LGBTT+ da Contee, Valdir Graniel Kinn, publicou artigo no site da revista Carta Capital sobre a violência física sofrida pelas mulheres, assustadoramente ampliada durante esse tempo de isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, bem como sobre o a responsabilidade dos homens e o papel da educação nesse enfrentamento.
A violência, porém, também se faz de maneira simbólica. Um dos casos emblemáticos ocorridos neste mês foi o da vereadora de Goiânia, Tatiana Lemos (PCdoB Goiás), que, foi impedida de fazer a defesa de um projeto de lei de sua autoria em favor da saúde das mulheres. Em razão de sua própria saúde, Tatiana acompanhava a sessão de modo remoto quando o vereador Clecio Alves (MDB), no exercício da presidência da Casa, ao colocar a matéria em votação, desconsiderou os parlamentares que participavam de maneira remota e, aos gritos e com determinação do corte do microfone da vereadora, cerceou seu direito de fala.
O caso ganhou repercussão nacional, mas, infelizmente, não é o único. Hoje, 31 de agosto de 2020, completam-se quatro anos do golpe jurídico-midiático-parlamentar — e também machista e misógino — que depôs a presidenta Dilma Rousseff. A mesma Dilma que continua sofrendo com a extrema agressão que lhe dirigem, como a desferida pelo editorial do jornal Folha de S. Paulo do último dia 21, que desonestamente comparou seu governo ao de Jair Bolsonaro.
“Quem acredita que as redes sociais inventaram as fake news desconhece o que foi feito pela grande imprensa no Brasil – a Folha inclusive. Não é sem motivo que nas redes sociais a Folha ganhou o apelido de ‘Falha de São Paulo’”, respondeu Dilma, em nota divulgada no mesmo dia. “O editorial de hoje da Folha – sob o título ‘Jair Rousseff’ – é um destes atos deliberados de má-fé. É pior do que um erro. É, mais uma vez, a distorção iníqua que confirma o facciosismo do jornal. A junção grosseira e falsificada é feita para forçar uma simetria que não existe e, por isto, ninguém tem direito de fazer, entre uma presidenta democrática e desenvolvimentista e um governante autoritário, de índole neofascista, sustentado pelos neoliberiais — no caso em questão, a Folha.”
Pode não parecer, mas essa violência é feita da mesma estopa daquela pela qual as mulheres, embora sejam a maioria da população, ainda são minoria nos espaços públicos, sobretudo os espaços de poder. Também tem a mesma natureza daquela que aponta que as mulheres trabalhadoras são as mais impactadas negativamente nesta crise sanitária provocada pela pandemia. A maior parte das demissões, cortes de salários e suspensões de contrato atingiu mulheres e, até junho, 7 milhões de trabalhadoras forma forçadas a deixar o mercado de trabalho — 2 milhões a mais que o número de homens.
Combater tamanha violência — a física, da qual já falamos, e a simbólica — não pode se restringir a um mês. Nem a um espectro de cor. É tarefa diária que passa também pela cobrança de políticas públicas e ações efetivas em defesa da igualdade de gênero e da equidade de oportunidades. Em casa, no mercado de trabalho, nas instituições de ensino, nas entidades sindicais, nos espaços de representação, em tudo.
Fonte: Contee
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