Há 125 anos, era inaugurada a National Anti-Sweating League da Austrália, entidade civil pioneira na luta por melhores condições de trabalho na indústria
Igor Natusch
Uma das primeiras ações organizadas contra más condições de trabalho na indústria registradas no mundo, a versão australiana da National Anti-Sweating League foi inaugurada em um ato público na cidade de Melbourne, no dia 29 de julho de 1895. O nome da entidade não é fácil de traduzir para português, mas trata-se de uma Liga criada para combater as chamadas “sweatshops” – fábricas instaladas em galpões insalubres, onde trabalhadores e trabalhadoras precisam suportar jornadas exaustivas por pagamento muitas vezes irrisório. Além de exigir regulamentação dentro de fábricas e oficinas, a associação também erguia bandeiras como o salário mínimo.
As mobilizações contra esse tipo de trabalho precário na Austrália datam desde pelo menos a segunda metade do século XIX, mas ganharam dimensão mais dramática nos primeiros anos da década de 1890, a partir da depressão econômica que atingiu o país – e que, como consequência, forçou a classe trabalhadora a tolerar situações ainda mais inadequadas para não passar fome. Mesmo recebendo apoio dos sindicatos locais, a Liga foi acima de tudo uma iniciativa de reformistas de classe média, ligados ao pensamento liberal de então. O presidente da entidade era o reverendo Alexander Gosman, de notório envolvimento com causas ligadas à reforma social, e vários clérigos protestantes tiveram papel significativo nos rumos da associação.
Embora a ideia original fosse de promover mudanças que atingissem toda a Austrália, o sucesso da Liga ficou restrito ao estado de Victoria, onde surgiu. Mesmo assim, longe esteve de ser desprezível: em 1896, foi aprovado o Factories and Shops Act, contendo emendas redigidas pela entidade que garantiam um pagamento mínimo semanal e estabeleciam padrões de lotação, ventilação e higiene nos locais de trabalho. Outras conquistas, como a limitação nas horas de trabalho e o estabelecimento de dias de descanso nas fábricas, foram sendo consolidadas nos anos posteriores, em um esforço de pressão coordenado com os sindicatos locais.
Tendo atingido boa parte de suas metas inaugurais, e enfrentando resistência de setores conservadores e protecionistas contra o avanço de suas propostas para o restante da Austrália, a National Anti-Sweating League deixou de ter atuação direta a partir de 1912, tornando-se no ano seguinte a Anti-Sweating and Civic Advancement League e assumindo um papel de fiscalização. A Liga original teria uma sobrevida a partir dos anos 1930, quando uma nova depressão econômica desestabilizou o cenário do trabalho na Austrália, e encerrou atividades de forma definitiva em 1953.
Curiosamente, uma entidade do mesmo nome surgiu na cidade de Londres, no ano de 1906. Diretamente inspirados pelos reformistas australianos e dividindo com eles boa parte das bandeiras, os ingleses conseguiram a aprovação do Trade Boards Act 1909, que previa a criação de comitês para o estabelecimento de salários mínimos de caráter regional.
Fonte: DMT