Para agradar Donald Trump, governo britânico entra na onda antichinesa


Por Nathalia Urban, jornalista

Muitos acreditam que as novas decisões do governo britânico, além de um movimento no xadrez geopolítico, tenham um quê de saudosismo imperial, já que Hong Kong foi colônia do Reino Unido

(Foto: REUTERS/Peter Nicholls/Pool)

O Reino Unido suspendeu seu tratado de extradição com Hong Kong e aplicou hoje um embargo de armas ao território chinês em resposta à sua nova lei de segurança nacional.

O secretário de Relações Exteriores Dominic Raab afirmou no Parlamento que as medidas eram uma resposta “razoável e proporcional” à lei aprovada em Pequim.

Ele disse que a suspensão do tratado seria promulgada “imediata e indefinidamente” por causa de preocupações de que a legislação de segurança pudesse permitir a extradição de suspeitos de Hong Kong para julgamento na China continental. 

Não é o primeiro ataque às relações com os chineses. Na semana passada, o governo britânico disse à empresa chines Huawei que teria sua tecnologia removida da rede de telecomunicações 5G da Grã-Bretanha até 2027, após pressão do presidente dos EUA, Donald Trump. Em virtude do fracasso das negociações da Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, o gabinete de Boris Johnson tem tentado assegurar um acordo econômico com o governo Trump antes das eleições.

O embargo à venda de armas para a China continental, em vigor desde 1989, agora será estendido e aplicado em Hong Kong por causa dos poderes extras que Pequim possui para manter a segurança interna do território.

Raab disse: “A extensão deste embargo significará que não haverá exportações do Reino Unido para Hong Kong de armas potencialmente letais, seus componentes ou munição.

“Isso também significará uma proibição de exportação de qualquer equipamento ainda não banido que possa ser usado para repressão interna, como manilhas, equipamentos de interceptação, armas de fogo e granadas de fumaça”. 

Os limites da hipocrisia não param por aí, já que tecnicamente os novos poderes de segurança nacional implementados na China já existem no Reino Unido há muito tempo. É só lembrarmos que as Forças Armadas Britânicas na Irlanda do Norte ficaram de 1969 até 2007, ocupando o país por conta dos Conflitos da Irlanda do Norte.

Apesar das ações de Raab ocorrerem depois que o primeiro-ministro Boris Johnson prometeu uma resposta “dura” a Pequim, muitos acreditam que essas novas decisões do governo britânico, além de um movimento no xadrez geopolítico, tenham um quê de saudosismo imperial, já que Hong Kong foi colônia do Reino Unido, posteriormente um território dependente sob administração britânica de 1841 a 1997.