Oitenta e dois por cento dos brasileiros acreditam que a nomeação do general Eduardo Pazuello como ministro interino da Saúde foi uma má decisão do presidente Jair Bolsonaro. É o que mostra uma pesquisa da Vox Populi divulgada nesta terça-feira (14/7), dando razão às críticas feitas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que apontou que as Forças Armadas estão exercendo um papel institucional que não lhes cabe ao aceitar liderar o combate à Covid-19 no país.
Segundo a pesquisa, 65% dos entrevistados acreditam que os militares não deveriam participar do governo ou exercer qualquer atuação política, enquanto 30% apoiam a permanência dos membros das Forças Armadas no Executivo.
O levantamento também apurou o nível de confiança dos brasileiros nos militares de um modo geral. Dezoito por cento dos entrevistados disseram que confiam muito nos militares; 32% confiam mais ou menos; 17% confiam; enquanto 31% não confiam.
O levantamento foi encomendado pelo Partido dos Trabalhadores e ouviu 1,5 mil pessoas, por telefone, entre os dias 25 de junho e 3 de julho. A margem de erro é de 2,5%, estimada em um intervalo de confiança de 95%.
“Genocídio”
Em nota divulgada nesta terça, Gilmar afirmou que respeita as Forças Armadas, mas que o momento exige uma “interpretação cautelosa”. “Vivemos um ponto de inflexão na nossa história republicana em que, além do espírito de solidariedade, devemos nos cercar de um juízo crítico sobre o papel atribuído às instituições de Estado no enfrentamento da maior crise sanitária e social do nosso tempo”, disse.
O ministro afirmou que os militares estão, ainda que involuntariamente, sendo chamados para cumprir uma missão diversa ao seu papel enquanto instituição permanente do Estado.
No sábado, o ministro tinha dito que o Exército está se associando a um “genocídio” ao aceitar conduzir as políticas públicas desastrosas de enfrentamento à Covid-19 no alto escalão do governo. “Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse o ministro na ocasião.
Até esta terça, o país registrava 1,8 milhão de casos confirmados do novo coronavírus, e estava perto das 73 mil mortes. Enquanto isso, o Ministério da Saúde é comandado por um general, não por alguém com formação técnica.
Embora o Ministério da Defesa tenha rechaçado a declaração de Gilmar, ela reverberou em Brasília. Segundo a Veja, a fala do ministro do STF levou o governo a discutir a antecipação do processo de escolha de um novo titular na Saúde.