Por Altamiro Borges
Com o sugestivo título “Quem ganha com a cloroquina no Brasil”, o jornal Estadão publicou neste sábado (11) uma longa matéria que ajuda a explicar porque o agora “infectado” Jair Bolsonaro virou garoto propaganda de um remédio questionado por entidades médicas do mundo todo e pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a reportagem, “a campanha do presidente ajudou a empurrar os negócios de cinco empresas autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a produzir o medicamento no país. Elas não informam quanto o faturamento aumentou, mas dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) mostram que o consumo de cloroquina pelos brasileiros cresceu 358% durante a pandemia”.
O militante do laboratório Aspen
Para apimentar, o Estadão registra que “o laboratório Aspen, do empresário Renato Spallicci, triplicou em abril a produção de Reuquinol, à base da substância, aproveitando a onda criada por Bolsonaro. Em 26 de março, a caixinha do produto apareceu no mundo todo ao ser exibida pelo presidente num encontro virtual com líderes do G-20. Militante bolsonarista, daqueles que gostam de compartilhar na internet o que o presidente faz, Spallicci aproveitou as redes para divulgar as imagens do presidente exibindo seu remédio”.
Logo após confirmar positivo para a Covid-19 – o que gerou desconfianças diante do famoso difusor de fake news –, Bolsonaro voltou a exibir uma caixinha do remédio em sua live semanal, assistida por 1,6 milhão de pessoas. “Tomei um comprimido de cloroquina. Recomendo que você faça a mesma coisa. Sempre orientado pelo médico. É um testemunho meu: tomei e deu certo, estou muito bem”, jurou o garoto propaganda.
Ele ainda se antecipou às críticas e garantiu que “não estou ganhando nada com isso. Não tenho nenhum negócio com essa empresa”. Nesse episódio, o remédio exibido era a versão genérica produzida pela EMS. A empresa faz parte do grupo controlado por Carlos Sanchez, também dono do laboratório Germed, outro autorizado a vender a cloroquina no país.
16º homem mais rico do Brasil
“O empresário está na lista da revista Forbes como o 16º homem mais rico do Brasil e uma fortuna avaliada em U$ 2,5 bilhões. Sanchez participou de duas reuniões com Bolsonaro desde o início da pandemia. O último encontro, virtual, ocorreu em 14 de maio. Antes, em 20 de março, Bolsonaro já havia se reunido com o dono da EMS e outros empresários, também por videoconferência, para discutir a pandemia”, relata o Estadão.
O jornalão lembra ainda que “outro fabricante de cloroquina, o empresário Ogari de Castro Pacheco viu o laboratório Cristália, do qual é cofundador, ser prestigiado pessoalmente pelo presidente no ano passado. Filiado ao DEM, Pacheco é segundo suplente do líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (MDB-TO), e eleitor de Bolsonaro. Na ocasião, a convite de Pacheco, o presidente participou da inauguração de uma das plantas do laboratório, em 6 de agosto”.
Trump, o primeiro garoto propaganda
Até no episódio da cloroquina, o vira-lata sarnento Jair Bolsonaro plagia o presidente ianque Donald Trump – o primeiro garoto propaganda do remédio por razões suspeitas. Segundo denúncia publicada em abril pelo jornal The New York Times, o genocida é acionista do maior laboratório que produz o medicamento nos EUA.
No mês passado, porém, o mercenário-presidente sofreu um baque nos seus negócios. “O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e o Instituto Nacional de Saúde retiraram o medicamento, originalmente criado para combater malária, do coquetel de drogas recomendados contra a covid-19”, relata a BBC News.
Dias depois, “a agência reguladora de medicamentos e alimentos (FDA, na sigla em inglês) revogou a autorização de uso emergencial, dada em março, para que os hospitais americanos ministrassem hidroxicloroquina aos pacientes com Covid-19… O órgão foi além e, há dez dias, publicou uma revisão dos casos de efeitos colaterais graves em pacientes com coronavírus que receberam doses da medicação”.
As reações incluem arritmias cardíacas, problemas no sistema sanguíneo e linfático, falência do fígado e lesões nos rins. No relatório da FDA, dos 347 pacientes com Covid-19 que apresentaram resposta adversa no uso da hidroxicloroquina, 77 morreram. No caso da cloroquina, dos 38 pacientes com reações graves, dez não sobreviveram.
Apesar disso, Trump segue propagandeando o seu remédio – a exemplo do seu vira-lata sarnento no Brasil.