Por Francisca Rocha
12 de junho é o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, instituído pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2002. Com isso, a OIT pretende conscientizar a sociedade no munto todo sobre a importância de as crianças terem uma vida cercada de proteção e afeto e que isso é responsabilidade de todo mundo.
Mas os dados mostram uma realidade muito diferente no mundo e no Brasil. A própria OIT estima a existência de mais de 152 milhões de crianças e adolescentes exploradas pelo trabalho infantil. No Brasil são aproximadamente 2,5 milhões de pessoas de 5 a 17 anos duramente exploradas, abusadas e ceifadas de sua infância e adolescência, fases essenciais para o desenvolvimento dessa parcela da população.
Em nosso país, vemos todos os dias crianças vendendo balas em semáforos, no transporte público, trabalhando no campo e nas casas. Essas crianças são exploradas pelas piores e mais perigosas formas de trabalho infantil, muitas submetidas à exploração sexual.
Cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola, boa parte para ajudar no orçamento doméstico porque a crise se aprofunda, o desemprego e a informalidade crescem e com a falta da presença do Estado, essas crianças e adolescentes viram alvo fácil do tráfico de drogas, comprometendo ainda mais o seu futuro.
A falta de políticas públicas pelos direitos da infância e da adolescência, a redução drástica dos investimentos em educação pública, os cortes de verbas para o Sistema Único de Saúde (SUS), o abandono da cultura, do esporte e a falta de espaços de encontros e diálogo para a juventude prognosticam um futuro assustador.
Especialistas apontam para uma piora do quadro com a pandemia. A violência doméstica estourou com o isolamento social e quem mais sofre com isso são as mulheres, as crianças, os adolescentes, os LGBTs, a população mais pobre, que fica sem alternativa para a sobrevivência. A longo prazo toda a sociedade perde, porque perde o futuro, perde o trabalho, perde o mercado, perde a vida e a humanidade.
Nesse contexto, a escola tem papel fundamental na construção de cidadãs e cidadãos conscientes da necessidade de avançarmos para um futuro constituído de liberdade, justiça e do direito de todas as pessoas viverem como desejam e com respeito às escolhas de cada um.
E como a vida segue em frente, como seremos após a pandemia? Continuaremos a permitir que nos manipulem e destruam o futuro e os sonhos de nossos filhos? A hora é de termos consciência e lutarmos para construir o novo, porque o velho já era. Nada mais pode ser como era antes.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-SP).