Estatísticas divulgadas nesta sexta-feira (19) pelo IBGE revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,4% no primeiro trimestre do ano (janeiro a março). Em abril a situação se agravou, como sugerem os dados do instituto sobre a taxa de desemprego, que subiu para 12,6%, e a população ocupada, que recuou 5,4% (menos 4,9 milhões de pessoas), na maior queda da história.
Na opinião da coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a retração foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do produto. A indústria declinou 1,4%, enquanto a agropecuária cresceu (0,6%). O consumo das famílias registrou recuo de 2%, o maior desde a crise de energia elétrica em 2001, segundo Rebeca.
Retrocedendo oito anos
Com isto, o PIB retrocede ao patamar verificado no segundo trimestre de 2012, ou seja, voltamos de onde tínhamos saído oito anos atrás. Mas o pior ainda está por vir, ao longo do ano a queda do valor agregado à produção nacional pode beirar os 10%, a julgar pelas estimativas de alguns economistas, e a taxa de desemprego aberto ultrapassar 20%.
Culpa do coronavírus?
Não apenas. A economia já andava fraca antes da emergência da pandemia, com a produção praticamente estagnada, a taxa de desemprego acima de dois dígitos e 41% dos trabalhadores e trabalhadoras na informalidade, muitos deles auferindo rendas inferiores a um salário mínimo.
Este cenário social miserável se refletiu no fato de que mais de 100 milhões de cidadãos brasileiros se candidataram à renda emergencial de míseros R$ 600,00 aprovada pelo Congresso Nacional para amenizar os efeitos da crise agravada pela doença.
Golpe de 2016
A causa da anemia econômica já foi apontada por inúmeros observadores e economistas que acompanham a conjuntura com olhos críticos. Reside na política de restauração neoliberal imposta aos brasileiros desde o golpe de 2016.
Ao lado das reformas trabalhista e previdenciária, que subtraíram direitos e ampliaram a precarização do mercado de trabalho, os golpistas impingiram a Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos.
Esses retrocessos, inaugurados no governo Temer e radicalizados por Bolsonaro, constituem as principais causas da estagnação da economia que desgraçadamente ocorreu de modo inusitado na sequência da severa recessão de 2015/2016. Não fosse o ajuste fiscal irracional e as reformas antissociais a recuperação econômica teria sido mais forte e efetiva.
Mas eis que diante do avanço devastador da crise o banqueiro Paulo Guedes, o ministro da Economia vassalo dos interesses dos seus pares, propõe mais do mesmo veneno. “A manutenção do teto de gastos constitui um pilar fundamental neste processo”, afirmou o posto Ipiranga de Bolsonaro, para quem a crise abre a oportunidade “de implementar um conjunto amplo de reformas pró-mercado”.
É o caminho do contrassenso, desmoralizado pelo coronavírus que a despeito dos ideólogos neoliberais mostrou que a intervenção do Estado é indispensável para fazer frente às crises sanitária e econômica. Uma agenda para perpetuar a estagnação econômica, as escandalosas desigualdades sociais e a miséria.
São fartas as evidências de que o governo de Bolsonaro e Paulo Guedes é, hoje, o maior obstáculo no caminho do desenvolvimento nacional, assim como da democracia, da soberania e do bem estar social. Urge removê-lo para interromper a marcha célere da nação em direção à barbárie.
Umberto Martins