Manifestantes protestaram em Minneapolis, no estado de Minnesota, EUA, pelo segundo dia consecutivo após a morte de George Floyd, homem negro de 46 anos assassinado por quatro policiais brancos. Os protestos se intensificaram na noite de quarta-feira (27), com o registro de incêndio em um ponto da cidade.
Manifestações foram registradas em diversas partes do país. Em Los Angeles, Califórnia, centenas de pessoas marcharam contra a morte de Floyd e a brutalidade policial. Em Memphis, Tennessee, a polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e duas pessoas foram presas.
George Floyd morreu na segunda-feira (25) após ser sufocado durante uma abordagem policial. Um dos agentes prensou o joelho contra o pescoço da vítima, que afirmava constantemente que não conseguia respirar. Toda a ação foi filmada por uma testemunha e compartilhada nas redes sociais.
Segundo o governador de Minnesota, Tim Walz, os protestos começaram pacificamente, mas se intensificaram e se tornaram violentos. “A situação perto de Lake Street e Hiawatha, em Minneapolis, evoluiu para uma situação extremamente perigosa”, escreveu ele em sua conta no Twitter. “Para a segurança de todos, por favor, deixem a área e permitam que bombeiros e paramédicos entrem em cena.”
Minneapolis amanheceu nesta quinta-feira (28) com menos chamas, mas muita fumaça ainda saindo do local do incêndio, que está interditado. O advogado que representa os familiares de Floyd, Benjamin Crump, disse em comunicado que eles pedem protestos pacíficos e com distanciamento social, por causa da pandemia do novo coronavírus.
°”Não podemos nos afundar no nível de nossos opressores e não devemos colocar em risco outras pessoas durante esta pandemia”, afirmou Crump. “Exigiremos e forçaremos mudanças duradouras, ressaltando tratamentos que são horríveis e inaceitáveis e conquistando justiça.”
Policiais demitidos
Os quatro policiais envolvidos na ação foram demitidos da Polícia de Minneapolis. Mas a família de Floyd quer que eles sejam acusados de homicídio. O prefeito Jacob Frey pediu que o agente responsável pelo sufocamento – identificado como Derek Chauvin – seja acusado pelo crime. O advogado de Chauvin, Tom Kelly, não se pronunciou sobre as acusações. Os outros três agentes envolvidos no caso são Thomas Lane, Tou Thao e J. Alexander Kueng.
“Por cinco minutos, um policial branco no nosso departamento de polícia pressionou o joelho contra o pescoço de um homem negro que estava algemado, que não era uma ameaça e falava claramente como ele estava sendo impactado por aquilo, como sua saúde física estava sendo prejudicada e como ele não conseguia respirar”, disse o prefeito à CNN na quarta.
“Nas últimas 36 a 48 horas, tenho me perguntado ‘por que o policial que matou George Floyd não está na cadeia agora?’, e não consigo responder essa pergunta”, afirmou o político, que ressaltou que a técnica utilizada pelo agente para prensar a cabeça da vítima no chão é contra as regras do departamento.
O prefeito enviou condolências à família de Floyd e, mais uma vez, criticou os policiais. “O que vimos foi horrível e completamente confuso. Quando você ouve alguém pedindo ajuda, você deve ajudar. Esse policial falhou em seu sentido humano mais básico”, disse Frey. “Ser negro nos EUA” não deveria ser “uma sentença de morte”, afirmou.
O Departamento Federal de Investigação dos EUA (FBI) está apurando o ocorrido e tenta determinar se os policiais envolvidos “privaram voluntariamente [Floyd] do direito ou privilégio previsto na Constituição dos EUA”, segundo nota do órgão.
Uma polícia violenta
De acordo com dados do grupo de pesquisa Mapping Police Violence, a polícia dos EUA foi responsável pela morte de 1.099 pessoas em 2019. Ao menos 24% delas eram negras, grupo que corresponde a 13% da população do país. Cerca de 200 a 300 negros morrem anualmente nas mãos de policiais.
Em 2014, Eric Garner, de 43 anos, morreu após o policial Daniel Pantaleo enforcá-lo durante uma abordagem por venda ilegal de cigarros. Garner, assim como Floyd, alertou, no momento da agressão, que não conseguia respirar.
No mesmo ano, Michael Brown, de 18 anos, foi morto pelo agente Darren Wilson, de 28 anos, que disparou várias vezes contra o jovem desarmado. Cerca de mil pessoas se reuniram em protesto à morte de Brown. O movimento Black Lives Matter começou a ganhar visibilidade durante manifestações na cidade de Ferguson, Missouri.
Em 2015, em Baltimore, no estado de Maryland, Freddie Gray, de 25 anos, foi preso após policiais encontrarem uma faca no bolso dele e levado à delegacia em uma van. Ao chegar no local, Gray foi transferido para uma clínica com lesões graves na medula. Ele entrou em coma e morreu uma semana depois.
No ano seguinte, Terence Crutcher, de 40 anos, foi morto a tiros pela policial Betty Shelby em Tulsa, Oklahoma, depois que o carro dele foi encontrado abandonado no meio de uma avenida. Crutcher estava desarmado no momento da abordagem.
Em 2018, o policial Michael Rosfeld matou Antwon Rose II, de 17 anos, por este estar em um carro parecido com um veículo que a polícia procurava por envolvimento em um ataque a tiros. Rose estava desarmado e foi baleado três vezes.
‘Não consigo respirar‘
Floyd foi declarado morto em um hospital próximo ao local da abordagem, pouco depois da agressão dos policiais. A polícia de Minneapolis ainda não divulgou as imagens das câmeras dos uniformes dos agentes envolvidos, mas evidências sobre o caso chegam a cada momento.
Imagens da câmera de segurança de uma loja capturaram o momento inicial da abordagem fatal dos policiais. Floyd é visto sendo retirado de um carro, algemado e levado pelos policiais à calçada. Ele não parece resistir à abordagem.
O vídeo gravado por uma testemunha mostra dois agentes próximos a Floyd, imobilizado no chão, com um deles pressionando o joelho contra o pescoço da vítima. Essas imagens não capturaram o que levou à abordagem ou o que os policiais descrevem como resistência por parte de Floyd.
“Por favor, não consigo respirar”, disse ele durante alguns minutos, antes de ficar em completo silêncio. Testemunhas que acompanhavam a ação pediam ao policial que soltasse o homem.
“Eles deveriam estar ali para servir e proteger, e não vi nenhum deles levantar um dedo para ajudá-lo, enquanto ele implorava pela própria vida”, afirmou Tera Brown, prima de Floyd. Ela e os irmãos da vítima dizem que Floyd era uma pessoa gentil e não acreditam que ele tenha resistido à abordagem.
“Eles o trataram pior do que tratam animais”, disse Philonise Floyd, um dos irmãos. “Eles precisam responder por assassinato porque o que fizeram foi assassinato”, contou Brown.
Para Bridgett Floyd, irmã da vítima, a demissão dos policiais “definitivamente não é justiça suficiente para mim e a minha família”. “Aqueles homens devem ser colocados na cadeia. Eles mataram meu irmão”, disse ela.
Floyd nasceu em Houston, no Texas, e se mudou para Minnesota para trabalhar. Ele atuava como segurança em um restaurante há cinco anos, segundo o dono do estabelecimento, Jovanni Thunstrom. “Ele era adorado por todos os meus funcionários e clientes. Era meu amigo”, disse.
Celebridades se manifestam
A morte de Floyd causou indignação em todo o país, principalmente entre a comunidade negra. Diversas celebridades prestaram homenagens à vítima e mostraram revolta nas redes sociais.
O jogador de basquete Lebron James compartilhou em sua conta no Instagram uma montagem, com uma foto de Floyd com os policiais de um lado e, de outro, uma imagem de Colin Kaepernick, jogador de futebol americano, de joelhos durante a execução do hino nacional dos EUA em um jogo de 2016 como forma de protesto. Na época, Kaepernick disse que não honraria uma canção ou “mostraria orgulho da bandeira de um país que oprime negros”.
Na mesma rede social, a atriz Viola Davis disse que “isso é o que significa ser negro nos EUA”. “Somos ditados por políticas centenárias que restringem nossa própria existência e ainda temos que continuar enfrentando linchamentos nos dias modernos”, escreveu ela.
Fonte: CNN