Fatos falam mais alto do que argumentos. Eis um velho ditado carregado de sabedoria filosófica.
A política externa brasileira, ditada por Bolsonaro em parceria com o ministro Ernesto Araújo, é orientada pela ideia de que um alinhamento incondicional aos Estados Unidos, em nome de um anticomunismo tosco, será lucrativo para a nação.
Esta espécie de pensamento, desalinhado da realidade histórica e em contradição com a tradição do Itamaraty, acaba de sofrer profundo golpe com a decisão do presidente Donald Trump de proibir a entrada nos EUA de cidadãos não americanos que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias.
O gesto do presidente estadunidense não é amigável e vai acrescentar prejuízos à já fragilizada economia nacional. Antes disto, não é demais lembrar, os EUA também sequestraram e piratearam, em Miami, uma carga com 600 respiradores artificiais importados pelo governo da Bahia para combater o coronavírus.
O complexo de vira-lata subjacente à política externa do governo Bolsonaro se desdobra também na agressividade irracional contra China (alvo de graves ofensas na reunião presidencial de 22/4 censuradas por razão de Estado), Venezuela e Cuba, assim como na aliança com Israel, em detrimento dos palestinos e do Irã.
As grosserias do líder da extrema-direita contra Cuba esvaziaram o programa Mais-Médico e deixaram milhões de municípios sem assistência à saúde. As ofensas à China, de quem a economia brasileira depende agora muito mais do que dos EUA, é outro contrassenso diplomático. Ao qual também se somam as agressões contra Cuba, Argentina e Venezuela, na América Latina, ou árabes e iranianos no Oriente Médio.
Note-se que, diferentemente da Casa Branca, o governo chinês liderado pelo Partido Comunista não fez nenhum gesto hostil ao Brasil, apesar das recorrentes difamações contra a próspera potência asiática provenientes do Palácio do Planalto e cercanias.
Não há razão objetiva para a sinofobia, que é mais uma expressão da irracionalidade da ideologia dominante. De outro lado, a história já nos deu farta demonstração de que a concepção segunda a qual o que é bom para os EUA é bom para o Brasil não é boa conselheira para a diplomacia do nosso tempo, que está sendo temperado na transição a uma nova realidade geopolítica.
Entre os males produzidos pelo governo Bolsonaro, a política externa não é o menor nem o menos prejudicial ao país. As ideias que hoje a orientam, alicerçados num anticomunismo alucinado, não correspondem aos fatos e contrastam notoriamente com os interesses nacionais e ofendem o Artigo 4º da Constituição.
Gripezinha inofensiva?
Donald Trump, que preside um império hoje em franca decadência, é o ídolo maior de Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores.
É preciso acrescentar que, ao fechar as fronteiras para quem pisou no Brasil por esses dias, o amigo da onça que hoje habita a Casa Branca mostra ainda que não comunga a ideia de que a Covid-19 é uma gripezinha inofensiva. Será que os vassalos do Palácio do Planalto e do Itamaraty assimilaram a lição?
Apesar da força das Fake News e do anticomunismo, a verdade dos fatos vai acabar por prevalecer na consciência popular sobre a falácia dos argumentos bolsonaristas, testemunhos de uma ideologia caduca. A política externa do atual governo é uma vergonha nacional.
Umberto Martins