Sem citar nomes, a Alta Comissária da Onu para Direitos Humanos, Michelle Bachelet afirmou nesta quinta-feira (14) que a pandemia se agravou no Brasil devido à negação por parte de importantes líderes políticos, no começo do surto. Ainda de acordo com ela, há sinais de que grupos políticos representam uma ameaça à democracia brasileira, mesmo com a existência de instituições fortes.
“Acreditamos que a negação no começo, por parte de importantes líderes políticos, levou provavelmente à difusão da infecção e que outras medidas deveriam acontecer no início, que talvez poderiam ser evitadas. Houve, eu diria, algumas decisões que ajudariam o sistema de saúde ter um desempenho melhor.” De acordo com Bachelet, mesmo com a polarização existente no país, o sistema de saúde brasileiro reage bem.
Foram registradas 13.240 mortes no Brasil pelo coronavírus. No começo do surto, em março, o presidente Jair Bolsonaro classificou a covid-19 como uma “gripezinha”. Naquele mês, a expressão gripezinha foi usada outras vezes ao lado de “histeria” e “fantasia”. Além das declarações em cadeia nacional e através da imprensa minimizando a doença, Bolsonaro incentivou aglomerações em meio à pandemia.
A insistência do presidente em menosprezar as consequências do coronavírus ganhou adeptos que protagonizaram em abril e maio manifestações de violência contra a imprensa e pedidos pela volta do Ato Institucional número 5, instrumento instituído em 1968 e que endureceu a ditadura militar fechando o Congresso, suspendendo habeas corpus e estabelecendo a censura prévia à imprensa.
Segundo Bachelet, o Brasil “tem uma sociedade e líderes muito dinâmicos que poderiam mostrar que a infecção por Covid-19 não deve ser usada para encolher o espaço cívico e as liberdades de expressão e de imprensa”. Ela afirmou que as restrições causadas pela pandemia não podem ser pretexto para detenções arbitrárias e cerceamento à expressão e à imprensa.
A comissária da ONU reiterou que existem iniciativas positivas para unir instituições e grupos em um pacto pela vida. “É urgente que o interesse público deve ser guiado pela maior transparência, apoiado pela melhor ciência”, afirmou.
Por Railídia Carvalho com informações do G1
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil