Contrariando as orientações do próprio Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro decidiu ampliar a lista das atividades consideradas essenciais, que em tese podem funcionar livremente, incluindo academias de ginástica, barbearias e salões de beleza. A medida foi adotada através de decreto presidencial.
O ministro da Saúde, Nelson Teich, sequer foi avisado da novidade, que timidamente deu a entender que não aprova. Foi informado da iniciativa do líder da extrema direita pelos jornalistas. Uma humilhação pública.
Durante entrevista nesta terça-feira (12), enquanto falava sobre a pandemia, um repórter tentou socorrer o perplexo ministro Teich: “Ele acabou de falar no Alvorada.” E o ministro, entre incrédulo e estupefato: “Falou agora?” Diante da resposta afirmativa, ele ergueu levemente a mão. E emendou: “Decisão de?… Manicure, academia…”
Letra morta
Mas o insano decreto do capetão neofascista, forte candidato a ditador – que conforme o ministro do STF, Gilmar Mendes, quer nos impor uma espécie de presidencialismo imperial – corre o sério risco de se transformar em letra morta, se é que já não se transformou.
Governadores de diversos estados anunciaram que pretendem ignorar o decreto. João Doria (PSDB), governador de São Paulo, divulgou no Twitter uma lista dos serviços que poderão funcionar no estado — e não incluiu nenhuma das atividades mencionadas no decreto presidencial.
Na lista do governador paulista constam indústrias de transformação, construção civil, comunicação social, segurança, abastecimento, saúde e determinados serviços gerais (que não incluem academias e nem salões de beleza), logística e alimentação.
Seria cômico, se não fosse trágico. Os fatos lembram o famoso ditado árabe: os cães ladram enquanto a caravana passa.