Por Railídia Carvalho
O ataque aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros se intensificou com a pandemia do coronavírus. Para Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o momento pede que se intensifique a articulação com a sociedade civil organizada, gestão pública e Congresso Nacional. Segundo ele, redução de salários, redução de jornada e suspensão de contratos potencializam a precarização que está sendo imposta à classe trabalhadora.
Nesta quinta-feira (7) a Câmara dos Deputados vota a Medida Provisória 936 que permite às empresas reduzirem salários, jornada e suspender contratos. A MP está em vigor desde 1º de abril e balanço recente aponta que mais de cinco milhões de trabalhadores tiveram salários reduzidos, jornada ou contratos suspensos. “A pandemia inaugurou a era da dissolução dos direitos sociais e trabalhistas e evidentemente ela inaugura a instauração do trabalho análogo à escravidão”, afirmou Adilson.
Romper o ciclo de desigualdade
O dirigente lembrou que a classe trabalhadora é a que sofre mais com a desigualdade econômica brasileira e com a concentração de renda. Nesta quarta-feira (6) o IBGE publicou dados do ano passado sobre rendimento e mostrou que aumentou a diferença entre aqueles que ganham mais e menos no país. Em 2019 1% da população com rendimento maior recebia, em média, R$ 28.659 mensais, enquanto a metade da população com o menor rendimento ganhava R$ 850.
“Não podemos permitir que a lógica liberal prevaleça e exponha ao risco milhões de famílias brasileiras”, reiterou Adilson. Na opinião dele, o Brasil pode se tornar um epicentro da pandemia. “E seria uma tragédia muito grande porque temos déficit de tudo: de equipamentos, de respiradores, déficit de álcool gel, de máscaras. Vemos um processo de colapso nos cemitérios e tudo isso nos entristece por demais”.
Bolsonaro: comportamento genocida
O presidente da CTB criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro: “Tem comportamento genocida. É um ponto fora da curva, pressionando para que a economia seja retomada de forma irresponsável”. Adilson ressaltou que qualquer plano que aponte para uma retomada precisa ter como base “um melhor trato com a vida das pessoas”.
“Para voltar à atividade eu vou precisar ser testado, vou precisar ter máscaras, ambiente higienizado, vou precisar evitar aglomeração no local de trabalho. Todos são requisitos fundamentais. A gente não vai poder voltar para o local de trabalho nas condições que a gente trabalhava no mundo pré-coronavírus. Será uma nova realidade”, avaliou o dirigente.
Reconversão industrial
Os equipamentos de proteção dos trabalhadores tem estado no centro das demandas das centrais. Nesta terça-feira (5), os presidentes das Centrais Sindicais se reuniram em videoconferência com o governador da Bahia, Rui Costa. A reconversão industrial esteve entre os temas tratados. O mesmo assunto havia sido levantado pelas Centrais no encontro com o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia. “Deslocar a atenção para responder às necessidades emergenciais no combate à pandemia”, exemplificou Adilson.
Na opinião dele, empresas como a Petrobras poderiam atuar neste momento para oferecer serviços em melhores condições para o povo brasileiro. “A Petrobras diminuiu e até paralisou a produção em vários locais. Se você retoma a produção e tem um petróleo em alta escala poderia retomar as refinarias, baixar o preço do combustível, baixar o preço do gás de cozinha”, argumentou.
Adilson classificou como “medíocre” o governo brasileiro enviar o petróleo para os Estados Unidos refinarem. “Eles pegam o nosso óleo cru e mandam para os EUA. E ele volta refinado em forma de óleo diesel em forma de gasolina com preço muito mais caro. Penaliza a população em um momento de crise. É uma vassalagem desavergonhada”.