Por Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadora do Brasil)
O primeiro domingo de maio (3) inaugurou um novo capítulo da crise política e institucional que agita o Brasil em meio à pandemia do coronavírus. A sociedade presenciou mais um espetáculo de afronta à Constituição e ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional patrocinado pelo presidente Jair Bolsonaro, que participou de um ato golpista em Brasília, marcado por agressões a jornalistas e faixas pedindo intervenção militar e fechamento do STF e do Congresso Nacional.
O líder neofascista fez uma ameaça velada às instituições e à democracia, sugerindo que tinha o apoio das Forças Armadas e do povo, na contramão do que sugerem as pesquisas indicando que a maioria do povo desaprova o governo e quer vê-lo fora do Palácio do Planalto. O Ministério da Defesa divulgou na segunda (4) uma nota na qual reitera o compromisso do Exército, da Aeronáutica e da Marinha com a Constituição e a democracia, num velado desmentido ao presidente.
Bolsonaro também abusou da mentira e do cinismo ao atribuir a supostos “infiltrados” a agressão contra jornalistas e enfermeiros promovida pela horda fascista que lhe dá respaldo, uma minoria barulhenta mas inexpressiva, a “infiltrados”. Nesta terça (5) ele voltou a agredir jornalista da Folha de São Paulo, deixando evidente quem de fato está estimulando ataques aos profissionais e à liberdade de imprensa.
Além de constituir uma ofensa inaceitável à Constituição, a manifestação golpista de domingo configura mais um atentado à saúde pública neste ambiente de pandemia em que as orientações da ciência e da medicina, adotadas pela OMS e o próprio Ministério da Saúde, indicam que é necessário evitar aglomerações para conter o avanço da doença.
A insanidade foi cometida precisamente no dia em que o Brasil ultrapassou a casa dos 100 mil casos registrados, com mais de 7 mil mortes. O chefe do Executivo continua agindo como um aliado fiel e extremista do coronavírus, comportamento que desperta a crescente indignação do povo brasileiro. No front externo, ele continua fazendo o que Donald Trump quer, cortando relações diplomáticas com a Venezuela em detrimento dos interesses nacionais.
É preciso observar que a manifestação golpista e as ameaças vomitadas pelo presidente em Brasília ocorreram no dia seguinte ao do longo depoimento prestado pelo ex-ministro Sergio Moro à Polícia Federal em Curitiba, que durou nada menos que 8 horas. Moro teria adicionado novos elementos para comprovar sua denúncia de interferência política na PF para proteger os filhos de Bolsonaro, investigados por corrupção, disseminação em massa de Fake News, ligações com a milícia carioca e outras patifarias.
O ex-capitão cometeu vários crimes e é notório que teme as investigações da Justiça, que também determinou a apresentação do exame que fez para Covid-19 e não teve a dignidade e coragem de divulgar. “Chegamos ao limite. Não tem mais conversa”, foi o que declarou no malfadado pronunciamento em Brasília.
Palavras ameaçadoras que traduzem uma aposta no golpe militar para permanecer a qualquer custo no poder. Ao mesmo tempo, ele esquece a falsa retórica anticorrupção da campanha, que o acompanhou no governo até a explosiva saída de Moro, e recorre a um desavergonhado toma-lá-dá-cá com Roberto Jefferson e o Centrão, ou seja, ao que há de mais venal no cenário político nacional.
O ovo da serpente está em exposição na capital do país, só não vê quem não quer. Quem já chegou ao limite é a classe trabalhadora, são as forças democráticas e a ampla maioria do povo brasileiro. A grave crise que castiga a nação brasileira tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.