A crise política nacional ganhou um novo impulso nesta quarta (29) com a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem ao comando da Polícia Federal.
Diretor da Abin, Ramagem foi escolhido pelo presidente porque é “um chegado”, amigo íntimo do Clã e, em especial, dos filhos que estão sendo investigados precisamente pela PF. O governo anulou a nomeação em edição extraordinária do Diário Oficial da União e a AGU anunciou que não vai recorrer para evitar um desgaste político maior. Mais tarde, o presidente desautorizou a Advocacia-Geral da União, informando que vai ter recurso e esbravejando mais um “quem manda sou eu”.
Desvio de finalidade
Moraes viu na mudança pretendida para a direção geral da PF um indício muito forte de desvio de finalidade, percepção que vai ao encontro das acusações do ex-juiz Sergio Moro, de interferência política na polícia pelo líder da extrema direita brasileira.
As declarações de Sérgio Moro serão objeto de um inquérito determinado pelo ministro Celso de Mello, do STF. Elas indicam que a mudança na chefia da PF é orientada pelo objetivo espúrio de proteger os filhos de investigações associadas à corrupção, à milícia carioca e a fábricas de Fake News, das quais por sinal o próprio Supremo foi vítima.
Denúncias dando conta do envolvimento do Clã Bolsonaro com a corrupção (como rachid no Parlamento), ligações perigosas com o crime organizado e disseminação em massa de notícias falsas não constituem novidades. Mas ganharam inesperado impulso depois que Moro decidiu se despedir do governo atirando e o PGR Augusto Aras encaminhou ao STF pedido de abertura de inquérito para apurar a veracidade ou não das graves denúncias, aparentemente mirando ilegalidades do ex-juiz curitibano.
Desarmonia
A liminar concedida por Alexandre Moraes contemplando ação movida pelo PDT revela uma óbvia desarmonia entre os poderes da República, acrescentando à já grave crise política contornos institucionais. Tudo isto ocorre em meio ao agravamento da pandemia do coronavírus e com a economia nacional a caminho de uma depressão inédita.
O presidente neofascista continua dando sinais de que não dá valor à vida do povo brasileiro e menospreza a doença. Inquirido sobre o que achava do fato de o Brasil já ter ultrapassado a China em números de mortos, no momento em que estatísticas oficiais indicavam mais de 5 mil mortes, o bronco respondeu: “e daí, o que eu posso fazer?”.
Tudo que o mito dos tolos está conseguindo com a conduta irresponsável e desmoralizante é ampliar o isolamento, alimentar as críticas e o consenso majoritário na sociedade de que o maior obstáculo ao enfrentamento da crise sanitária, econômica e política que castiga o Brasil no momento reside no Palácio do Planalto. Urge afastá-lo sob pena de prejuízos maiores e irreparáveis à democracia e à nação.
Fora Bolsonaro!
Umberto Martins