Por Railídia Carvalho
“Antes da pandemia discutíamos que precisávamos adotar as ferramentas e ampliar a nossa atuação. E todas as dificuldades que chegaram com a crise sanitária também trouxeram a nova realidade de nos reinventarmos”, afirmou Maria Raimunda Gomes, a Doquinha, em entrevista para o Portal CTB. Avaliando os desafios da classe trabalhadora neste 1º de maio virtual, a Secretária Nacional de Comunicação da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), disse que o movimento sindical precisa se apropriar das ferramentas da internet que se apresentam como um “campo aberto” para diversificar a atuação dos trabalhadores e trabalhadoras.
As atividades do 1º de maio deste ano serão realizadas unitariamente com a participação de onze centrais sindicais brasileiras. O tema é “Saúde, Emprego, Renda: Um novo mundo possível com solidariedade”. “O Dia do Trabalhador é, para as Centrais, data de reflexão e de luta pela democracia, pelo direito de a classe trabalhadora ter um movimento sindical organizado, ouvido e respeitado”, diz trecho de nota encaminhada pela assessoria das Centrais Sindicais. A programação da live do dia 1º de maio prevê apresentações musicais e mensagens de lideranças do movimento sindical e social.
Confira entrevista da dirigente da CTB na íntegra:
Portal CTB: Como você avalia o cenário do 1º de maio deste ano e qual será o espírito das atividades via internet programadas para o dia?
Maria Raimunda Gomes (Doquinha): É algo totalmente inovador, nunca visto na história dos movimentos dos trabalhadores no Brasil. É a primeira vez que temos uma atividade cem por cento virtual motivada pela necessidade de preservarmos as vidas e evitarmos aglomeração. O que me anima nessa atividade, apesar das dificuldades que vamos enfrentar, é que estamos nos aproximando de uma ferramenta que era distante dos trabalhadores e do movimento sindical. Antes da pandemia discutíamos que precisávamos adotar as ferramentas e ampliar a nossa atuação. E todas as dificuldades que chegaram com a crise sanitária também trouxeram a nova realidade de nos reinventarmos. Precisamos nos apropriar dessas ferramentas, desse novo conhecimento. É novo momento da vida sindical. O mundo não será mais o mesmo depois que acabar o isolamento. O que vamos ter que enfrentar são novas formas de articulação. O desafio desse primeiro de maio é aproximar, mesmo que virtualmente, a classe trabalhadora para que ela descubra a potencialidade das ferramentas da internet. Não é apenas entrar em um grupo de WhatsApp ou usar o facebook. A internet é um campo aberto para amplificar a nossa voz, ampliar relações. Joga um papel fundamental para diversificar as formas de atuação do movimento sindical.
Portal CTB: Que comparações a gente pode fazer com as lutas atuais e as lutas históricas do primeiro de maio. O que mudou ou retrocedeu?
Maria Raimunda Gomes (Doquinha): O que se assemelha e o que se repete é a luta histórica em defesa dos direitos da classe trabalhadora. A gente vem ao longo dos últimos séculos defendendo as mesmas bandeiras: a redução da jornada de trabalho, a legitimidade dos direitos constitucionais trabalhistas, a igualdade salarial entre homens e mulheres, mais espaços no mundo do trabalho para incluir a juventude. O que temos de novo neste primeiro de maio e que será o nosso maior fantasma de agora em diante é o desemprego. A gente sabe que pós-pandemia o numero de desempregados no Brasil vai explodir. Se tínhamos 42 milhões de pessoas invisíveis no Brasil, excluídas do mundo do trabalho, imagine após a pandemia. Neste primeiro de maio precisamos alertar que se antes quase um terço da população era invisível a pandemia vai provocar um colapso no mundo do trabalho. Se o Brasil continuar avançando no processo de desindustrialização não vai ter emprego. O grito do primeiro de maio deve ser pela preservação das vidas, da garantia dos empregos com direitos, da criação de empregos decentes, da reindustrialização. A gente sabe que o mundo inteiro vai entrar em recessão e nós precisamos fortalecer as reivindicações da classe trabalhadora. Reivindicamos que aqueles que já trabalham mantenham seus direitos e os que estão excluídos sejam incluídos com direitos assegurados e não com trabalho análogo a escravidão. O primeiro de maio é também um grito de socorro para o Brasil gerar empregos
Portal CTB: O golpe de 2016 abriu caminho para a conjuntura de retirada de direitos e de ataque aos sindicatos que se agravou após a eleição de Jair Bolsonaro?
Maria Raimunda Gomes (Doquinha): Abriu caminho, sim. Eu não sou do grupo das pessoas ingênuas que acha que as ações deste grupo são por acaso. Foi tudo estrategicamente pensado. Primeiro criou o ambiente favorável para o ódio à esquerda buscando demonizar a esquerda e o PT para facilitar a aceitação deste projeto contra os trabalhadores e trabalhadoras. Desde o golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff estamos vivendo uma avalanche de destruição do estado democrático de direitos. Essa destruição tinha como prioridade a destruição dos sindicatos. A reforma trabalhista que desfigurou a CLT sinalizava que a queda do movimento sindical era a maneira como a avalanche sobre os trabalhadores e trabalhadoras conseguiria ser aprovada. O sindicato era a resistência contra a retirada de direitos. A eleição de 2018 renovou o parlamento reduzindo a bancada do trabalho a um terço. Quando você reduz um público que defende um segmento é óbvio que enfraquece esse segmento. Hoje o parlamento aprova tudo o que o grande capital propõe e retira tudo o que não e interessante para ele. O parlamento hoje representa a elite escravocrata do Brasil que atua para amordaçar a classe trabalhadora e deixar esse segmento sem condições de reagir.
Portal CTB: Quais os caminhos que as Centrais apontam nesta resistência em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia?
Maria Raimunda Gomes (Doquinha): A gente ainda não tem desenhado esse cenário, estamos construindo. Tem se mostrado um movimento muito rico mas também exige muita articulação para construir uma unidade. Nós da CTB acreditamos na implantação de um projeto Nacional de Desenvolvimento construído com a participação ativa da classe trabalhadora, que inclua todas as pessoas desfavorecidas, que desenvolva o país e que vá sendo implementado em escala crescente com a projeção do emprego e desenvolvimento. Mas nesse terreno do diálogo todas as contribuições e ações são bem-vindas. A gente defende a construção desta frente ampla para além dos partidos políticos que estarão presentes mas envolva Centrais, as organizações sociais, movimento estudantil, intelectuais. A frente ampla é a saída e nela deve ser incluído todo segmento que pensar progressivamente. Para construir esse projeto nacional de desenvolvimento ainda e preciso que atores diversificados abracem esse programa