Por Railídia Carvalho
As centrais sindicais estiveram reunidas nesta terça-feira (14) em uma live nas redes sociais para fazer um balanço das ações do movimento sindical no combate à pandemia do coronavírus. Foi a primeira experiência na internet que reuniu os presidentes das seis centrais sindicais mais representativas do país. A mediação foi feita por Clemente Ganz, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).
Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), reforçou a necessidade de defender vidas, preservar o emprego e destacou que as centrais devem liderar um plano de retomada gradativa e segura da economia. Além da CTB, participaram da live a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Central única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e União Geral dos Trabalhadores (UGT).
“Como o trabalhador vai colaborar para a retomada da economia se tem o salário reduzido e o poder de compra diminuído?”, questionou Adilson. De acordo com ele, a atuação vigorosa das Centrais Sindicais é o que tem impedido o trabalhador de pagar a conta dos efeitos da pandemia. “Muitas medidas apresentadas até agora visam precarizar o trabalhador”, completou Adilson. Na opinião dele, o atual governo federal tem sido “inoperante”.
Recursos do Trabalhador para o trabalhador
“O governo liberou 140 milhões, inicialmente, e no momento em que a gente busca localizar de onde vem esse valor vê que grande parte dos recursos são provenientes do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), abono salarial e até mesmo do seguro DPVAT contrariando toda a expectativa de que o governo pudesse debater a taxação das grandes fortunas e a revogação da Emenda 95, que congelou gastos nos serviços essenciais”, enfatizou o presidente da CTB
Segundo Adilson, o deslocamento do PIS PASEP para a conta do FGTS é medida que faz sentido porque direciona para o trabalhador um dinheiro que estava paralisado mas afirmou que as Centrais Sindicais não podem permitir que o “governo meta a mão” nos recursos do FAT. “Tem que brigar para que o FAT seja fonte de amparo e proteção ao trabalhador”.
Luta unitária
Na opinião do presidente da CTB, o movimento sindical tem motivo de sobra para buscar a coesão e potencializar o protagonismo no exercício do diálogo com gestores públicos e Congresso Nacional. Adilson elogiou a maturidade das centrais e a forma como tem atuado de forma contundente na defesa do trabalhador.
Sérgio Nobre, presidente da CUT, afirmou que a unidade tem sido essencial na luta das Centrais Sindicais para garantir condições para o trabalhador permanecer em casa. Na opinião de Miguel Torres, presidente da Força Sindical, atingir esse objetivo só tem sido possível porque as Centrais fortalecem há alguns anos a luta unitária.
Bancos
Durante a live, Clemente perguntou a Adilson Araújo sobre como tem sido a contribuição dos bancários, trabalhadores do serviço considerado essencial, em meio a pandemia. Segundo o presidente da CTB, que é bancário, a atuação dos sindicatos da categoria preservou os direitos garantidos em acordos a esses trabalhadores e também criou normas que preservassem a vida dos trabalhadores e dos clientes durante a pandemia
“Se tem um setor que não tem motivos para reclamar da crise é o sistema financeiro. Ano passado o ganho dos bancos foi superior a 80 bilhões de reais. Cinco bancos tiveram ganho real acima de 30% e a maioria dos bancos tiveram ganho médio de 17%”, lembrou.
Adilson também comentou sobre a recente doação de R$ 1 bilhão de reais feita pelo Banco Itaú para constituir um fundo de apoio ao combate à pandemia. Ele lembrou que a doação foi feita ao Instituto Itaú, portanto, o valor deve retornar em forma de isenção fiscal. Colocar em discussão a tabela do imposto de renda foi um dos assuntos em que Adilson também opinou. “Por que não discutir isenção na tabela do IR para quem ganha até cinco salários?”, indagou se referindo a alternativas que podem amenizar as perdas dos trabalhadores durante o isolamento social.
Enfrentar MP 936
Ele defendeu também 100% de reposição para aqueles que recebem até três salários mínimos e tiverem seus salários reduzidos pelo empregador. “Não podemos aceitar uma subtração de 25% a 75% dos salários. Precisamos reivindicar a ampliação do seguro-desemprego. São questões que precisamos tratar no enfrentamento da Medida Provisória 936”, completou.
A MP 936 em vigor desde o início de abril autoriza a redução de jornada e salários e suspende contratos, além de favorecer o acordo individual. O governo paga um percentual complementar para o trabalhador tendo como referência o seguro-desemprego. As Centrais Sindicais consideram insuficiente o valor complementar que o governo prevê para os trabalhadores que tiverem salários reduzidos.
“O endividamento das famílias atingiu o patamar de 66%, ou seja, o povo vai ter muita dificuldade para garantir um prato de comida”, reiterou Adilson. “Precisamos ser céleres, não abrir mão da estabilidade, do emprego, do salário. O capital precisa saber enxergar que para colocar o Brasil suficiente capaz de desenvolver força produtiva é colocar produção em alta escala. Ser capazes de gerar riqueza e socializar os resultados. O povo precisa ter perspectivas de dias melhores”, ressaltou o dirigente.