Por Railídia Carvalho
“Quem tem fome, tem pressa”. Este tem sido o mantra dos movimentos sociais e sindicais, especialmente dos movimentos comunitários, que estão no dia a dia da população mais vulnerável das cidades brasileiras durante a pandemia do coronavírus. No bairro do M’Boi Mirim, zona sul de São Paulo, o Movimento pelo Direito à Moradia (MDM) criou uma rede de solidariedade para socorrer famílias que vivem do trabalho informal e esperam a boa vontade do governo federal para iniciar o pagamento da renda emergencial, prometido para este semana.
“São pessoas que vivem de bico, são camelôs, guardadores de carro, diaristas que não vão ter o que comer se mantendo em casa e isso foi o que nos levou a iniciar uma corrente de arrecadação de alimentos para essas famílias”, contou Antonio Pedro Sousa, o Tonhão, diretor da Federação Nacional das Associações Comunitárias (Facesp).
Segundo Tonhão, a epidemia desnudou as desigualdades nas metrópoles. Ele criticou o modelo de Estado mínimo e as consequências na saúde e também a visão que precarizou a vida do trabalhador brasileiro e não apresentou saídas para o desemprego. “A gente bate o olho e vê como foi danosa a Emenda Constitucional 95 para o SUS, que perdeu 20 bilhões de reais o ano passado. É muito dinheiro que faz falta agora. Outra coisa é uma grande parte dos trabalhadores na informalidade sem nenhum amparo do Estado, o que denota falência desse modelo liberal”, criticou.
A campanha do MDM, com apoio da Facesp, arrecadou em uma semana 300 quilos de alimentos que foram direcionados para cerca de 60 famílias totalizando aproximadamente 240 pessoas que receberam as cestas. Tonhão e Nilda Neves, dirigente do MDM, têm recorrido a parcerias como o Banco de Alimentos, Projeto que atende mulheres em situação de vulnerabilidade e também tem buscado doação em feiras livres e supermercados da região.
A Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) também tem participado das redes de solidariedade realizando doações junto às campanhas dos movimentos estudantis, comunitários, movimento negro e de mulheres. “Estamos atuando em diversas frentes, entre elas as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, diretamente com os movimentos sociais e também lideranças comunitárias. Os trabalhadores informais dependem do que faturam no dia para comer. Tem urgência não podem esperar a disposição do governo federal”, afirmou Carlos Rogério Nunes, secretário de políticas sociais da CTB.
De acordo com o sindicalista, o movimento social também tem cobrado do governo federal a implementação da renda emergencial, aprovada há uma semana mas que ainda não começou a ser paga. “Apesar de um ou outro ministro, como o da Saúde, ter uma visão mais social o atual governo mais atrapalha do que ajuda”, observou Rogério.
Segundo ele, as principais centrais sindicais brasileiras tem realizado um esforço também junto aos governos estaduais reivindicando assistência às populações mais vulneráveis, incluindo promover o acesso ao saneamento básico e a garantia de luz e água. “Se os governos, sobretudo o governo federal não colaborar, fica impossível para a população sobreviver nessa quarentena”.
Rosa Anacleto, presidenta da União de Negros pela Igualdade (Unegro), afirmou que pode haver um genocídio nas periferias provocado pela omissão do governo brasileiro. Atuando na preparação e doação de cestas básicas em parceria com a CTB, Sindicato dos Metroviários e trabalhadores dos correios, Rosa afirma que mais uma vez os vitimados serão homens e mulheres negros. A Unegro tem atendido famílias no jardim Carombé, na Brasilândia, zona Oeste de São Paulo.
“Antes da pandemia as gestões poderiam fazer de conta que não existiam essas pessoas vivendo com muita dificuldade mas agora se o poder público não der condições para que elas fiquem isoladas para evitar o contágio vai haver um genocídio nas periferias brasileiras”, reiterou Rosa. Na opinião dela, o poder público está se omitindo. “O povo preto e pobre está na periferia. Não há interesse do Estado. Se não for o movimento social e a sociedade em geral se organizar a intervenção do Estado não chega”.
Tonhão concorda com Rosa. Para ele o Estado e a prefeitura em São Paulo estão seguindo a cartilha básica da OMS, o que é correto, mas falha em atender a população mais vulnerável. “Precisava resolver a falta de água, tem casas que a água não chega e como vai higienizar as mãos? Teriam que oferecer cestas básicas de higiene e alimentos e garantir que a merenda escolar chegasse até as famílias que também enfrentam a alta nos precos. O gás de cozinha custava 60 reais e agora subiu para mais de cem reais. O poder público poderia possibilitar um vale-gás para as famílias”, completou Tonhão.
Você pode colaborar com as redes de solidariedade fazendo uma doação para as seguintes contas:
Unegro
Banco do Brasil
Agência 5688-x
CC 13.833-9
CPF 142.887.848-32
Em nome de Edson Luis de França
MDM
CNPJ 10.249.147/0001-73
Caixa Econômica Federal
Agência 4135
Conta Jurídica 00000373-5
Se você quiser doar material de higiene e limpeza procure os endereços abaixo:
Sede MDM – Zona Sul
Av Guarapiranga numero 3658 (antigo 1660)
Telefone: 5894 1053
Funcionamento: de Segunda a sexta-feira das 10h às 17h
Sede MDM – Bela Vista
Rua Professor Picarolo, 123 – Bela Vista (próximo ao viaduto 9 de julho)
Telefone: 2628 3417