A economia mundial já andava mal das pernas no ano passado. Mas a crise sanitária desencadeada pela pandemia do coranavírus já provoca consequências devastadoras para a produção. O derretimento do valor das ações negociadas nas bolsas de valores é apenas um sintoma da patologia que perturba o processo produtivo.
A indústria chinesa teve uma queda inédita em sua história nos primeiros dois meses do ano, um tombo de 13,5% na comparação anual, período em que as vendas no varejo recuaram 20,5%. Há mais de 30 anos não se observa algo parecido por lá.
Nos Estados Unidos, em apenas uma semana (23 a 28 de março) os pedidos de seguro-desemprego somaram 6,64 milhões e o O Morgan Stanley prevê para o segundo trimestre deste ano uma queda de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da maior economia capitalista do mundo, que com isso retrocederia ao menor nível em 74 anos.
Tombo inédito
No Brasil, a tragédia não será menor. Até mesmo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estima que a economia nacional está ingressando na maior recessão de sua história. O cenário que projetou numa live do canal XP no Youtube, de uma queda de 5,5% do PIB (um recuo inédito), é perturbador mas pode até se revelar otimista ao longo dos próximos meses.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) espera uma queda de 31% nas vendas ao varejo durante a Páscoa. Já a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) reportou um declínio de 90% nas atividades no ramo no final de março. A depressão pode ser pior do que sugere a reflexão do presidente do Banco Central, que mencionou uma queda de 90% nas vendas com cartões durante as primeiras semanas após o coronavírus.
O combate à pandemia requer o isolamento social, o que significa a paralisação das atividades em diferentes ramos da produção e distribuição de mercadorias mundo afora, desarticulando as cadeias produtivas. Conforme mostraram Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx trabalho vivo é o que agrega valor à produção e determina o tamanho do PIB ao longo do ano. Máquinas, por si só, nada produzem. A paralisação do trabalho em âmbito nacional resulta obviamente na redução do PIB.
A experiência da China, que está servindo de exemplo para o mundo, indica que o quanto antes a pandemia for contida melhor para a recuperação da economia.
A dimensão da queda do PIB vai depender da duração da quarentena e, por extensão, do sucesso no combate à pandemia, assim como da direção e eficácia das políticas governamentais, a proteção de empregos e salários e também da política externa, e destacadamente do relacionamento entre Brasil e China, que é nosso maior parceiro comercial e maior fornecedor de equipamentos de combate à pandemia.
O governo, dominado pela extrema direita, não ajuda e, pelo contrário, atrapalha, hostilizando chineses e confrontando a ciência, a OMS, governadores e prefeitos na abordagem da crise. Por isto, Jair Bolsonaro deve ser considerado o maior obstáculo à guerra contra o Covid-19 e à retomada futura da economia. Removê-lo do Palácio do Planalto tornou-se uma emergência nacional.
Umberto Martins