Por Marcos Aurélio Ruy
Não é nenhuma novidade os números aviltantes da violência enfrentada diariamente pelas brasileiras, seja nas ruas, no ambiente de trabalho, no transporte coletivo, em igrejas, em festas e baladas ou em suas próprias casas.
Os números da violência são aviltantes. Somente em 2018 o Ligue 180 recebeu 92.663 denúncias de agressões às mulheres, informa o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Mesmo ministério que não toma as medidas necessárias para o combate à violência.
E prega abstinência sexual para jovens e adolescentes como maneira de coibir a gravidez na adolescência, em vez de “elaborar programas para educar a juventude sobre a sexualidade”, questiona Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
No Brasil, somente em 2017, de acordo com o Atlas da Violência 2019, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foram assassinadas 4.936 mulheres, 13 por dia. A maioria foi morta pelo cônjuge ou ex-cônjuge.
Maria da Vila Matilde, de Douglas Germano
O 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no final do ano passado, registrou 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018 e para piorar 53,8% das vítimas foram meninas de até 13 anos e dentro de casa, por pessoas conhecidas, que deveriam proteger essas crianças.
“A cultura do estupro ainda predomina na sociedade brasileira. Para combatê-la é fundamental termos mais mulheres na política e nas instâncias de poder”, define Celina.
Levantamento feito pelo Datafolha, em 2018, aponta para a exorbitância de 16 milhões de mulheres acima de 16 anos terem sofrido algum tipo de violência, sendo 3% ao se divertir num bar, 8% no trabalho, 8% na internet, 29% na rua e 42% em casa.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, uma pesquisa de 2019 dos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão mostra que 97% das mulheres com mais de 18 anos já sofreram assédio sexual no transporte público, por aplicativo ou em táxi.
Pagu, de Rita Lee
Por isso, neste Dia Internacional da Mulher – 8 de março – “as ruas ficarão pequenas para tantas mulheres, LGBTs e homens em favor da democracia e dos direitos conquistados a duras penas durantes as últimas décadas”, diz Maria Aires Oliveira Nascimento, secretária-adjunta da Mulher Trabalhadora da CTB.
Neste ano, “tem o agravante de enfrentarmos um governo fascista tramando contra as instituições para golpear a democracia e aí sim enfiar goela abaixo da classe trabalhadora o corte total de direitos com uma economia voltada unicamente para o capital”, acentua Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB.
Já para Sidiana Soares, presidenta do Centro Popula da Mulher e da União Brasileira de Mulheres de Goiás, “é fundamental trazer a luta pela emancipação da mulher para o centro do debate político”.
Por isso, “precisamos ter como norte a transversalidade das pautas, como a reforma da previdência e trabalhista que atingiram de forma particular as mulheres e ter isso como uma luta de toda a sociedade”.
Nos últimos três anos, “as coisas vêm degringolando”, reforça Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB, “o desemprego continua elevado e o trabalho precário cresce”. Isso, de acordo com ela, faz “piorar ainda mais a opressão sobre as mulheres, sempre as primeiras a serem demitidas e as últimas a se recolocarem”.
Lei Maria da Penha, de Luana Hansen e Drika Ferreira
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do quarto trimestre de 2018 mostram que apesar de as mulheres serem 52,4% da população em idade de trabalhar, correspondia a 45,6% da força de trabalho, enquanto os homens, 64,3%.
Já a Pnad de 2019 aponta para uma diferença salarial gritante. As mulheres ganham apenas 76% da remuneração masculina para mesmas funções. As mulheres negras recebem somente o equivalente a 43% dos salários dos homens brancos.
Raimunda Gomes (Doquinha), secretária de Comunicação da CTB, afirma que “o patriarcado trata as mulheres como seres inferiores, dependentes e frágeis, mas o mundo não seria o que é não fosse a força da resistência das mulheres”.
Com o desemprego elevado e o trabalho informal crescente, “as bandeiras das mulheres emancipacionistas continua sendo contra todo tipo de violência e abuso e também pela defesa do emprego”, alega Isis Tavares, presidenta da CTB-AM. “Famílias inteiras estão desempregadas ou no trabalho precário e isso faz a vida das mulheres piorar imensamente”.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca forte desigualdade inclusive na questão da escolaridade. “Mulheres com 12 anos ou mais de estudo ganham, em média, 68% do que homens com a mesma escolaridade”, afirma Luana Simões Pinheiro, da Coordenação de Gênero, Raça e Gerações do Ipea.
Sobre o trabalho doméstico e outros serviços não remunerados, as mulheres trabalham quase o dobro dos homens. Elas gastam 21 horas semanais nessas atividades, enquanto eles somente 11 horas.
“Somente a unidade das mulheres poderá alterar esses números, acabando com tamanha violência que sofremos todos os dias”, assegura Celina. “Nestas eleições, devemos trabalhar para eleger um grande número de mulheres com a pauta da emancipação feminina e pelo fim da violência”.
Olhos nos Olhos, de Chico Buarque
Ela ressalta a importância de campanhas movidas pela sociedade civil como o Não É Não, por salários iguais, contra o assédio sexual e pelo fim da cultura do estupro, já que a mídia e o governo machista não fazem a sua parte”.