O governo está consciente da gravidade da situação e atuando de forma corajosa para contê-la e para atenuar o impacto dos inevitáveis danos.
Estou na China há mais de 12 anos e nunca havia presenciado uma situação tão inusitada como a que agora estamos vivendo. Espaços turísticos tradicionais fechados, ruas vazias e milhões de pessoas, literalmente milhões e milhões, resguardando-se em suas casas. E isso em pleno Ano Novo Chinês, o feriado mais esperado dessa velha e pulsante China.
Minha família chinesa vive em Shaoxing, cidade conhecida em todo o país pelo seu vinho de arroz e por ser a terra natal da família do premier Zhou Enlai e do escritor Lu Xun, o pai da literatura moderna chinesa. Assim como milhões de chineses, nesse grande feriado eu deixei a cidade onde trabalho, Hangzhou, e vim para cá, para ficar esses dias com a família. E claro, além dos encontros familiares tradicionais, nosso plano era também passear um pouco. Mas a prudência diante da gravidade dessa crise, tem nos obrigado a uma quarentena voluntária. E assim está praticamente toda a China. E é o que deve ser feito e é o que a população, voluntariamente, está fazendo.
Tenho imaginado como nos comportaríamos no meu querido Brasil diante de uma situação difícil como essa… Provavelmente, estaríamos dentro de casa sufocados por coberturas sensacionalistas em busca de “likes” e de uma fácil audiência. Por outro lado, o governo estaria pressionado por diversos grupos econômicos para que não tomasse as decisões necessárias, para que os mesmos não fossem economicamente prejudicados. Mas isso é outra história.
Aqui, o governo está consciente da gravidade da situação e atuando de forma corajosa para contê-la e para atenuar o impacto dos inevitáveis danos. Cidades “isoladas”; feriado prolongado; cancelamento de festividades; fechamento de museus e de parques de diversões; construções de hospitais; orientação para que os comerciantes não se aproveitem da situação para extorquirem os consumidores na venda de produtos essenciais, como máscaras de proteção; avisos instruindo a população a procurarem o atendimento médico em caso de alguma suspeita, etc.
Preocupados, mas sem desesperos, estamos todos juntos contribuindo, cada um com a sua maneira, para superarmos o mais rápido possível esse momento de grande adversidade. E superaremos.
Não tenho dúvidas de que o país logo vencerá essa grande batalha contra o coronavírus e o seu povo chinês sairá ainda mais fortalecido.
Por José Medeiros
Potiguar, natural de Touros (RN), é doutor em Ciência Política e professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang – Hangzhou, China.
Via Portal Vermelho