Por Francisca Rocha*
A denúncia feita pelo procurador da República Wellington Divino de Oliveira, do Ministério Público Federal do Distrito Federal, mais parece uma ópera bufa de tão inconsistente, além de ferir a Constituição e a liberdade de imprensa, um verdadeiro atentado à democracia.
O procurador se baseou em uma conversa de Greenwald com Luiz Molição, um dos investigados da Operação Spoofing. Com isso, o fundador do Intercept Brasil foi denunciado pelos crimes de associação criminosa e de interceptação telefônica, informática ou telemática, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Oliveira desrespeita decisão do Supremo Tribunal Federal e ignora investigação feita pela Polícia Federal inocentando Greenwald, que fez seu trabalho jornalístico ao publicar, em 2019, conversas do então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Operação Lava Jato, comprovando o envolvimento de Moro e procuradores da Lava Jato nas peças de acusação para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em agosto, o ministro do STF, Gilmar Mendes impediu que o jornalista fosse responsabilizado no âmbito do trabalho jornalístico. “Ao contrário do que o contorcionismo retórico e interpretativo da denúncia tentou fazer parecer, os diálogos travados entre o requerente e sua fonte revelam apenas a ação de um jornalista profissional e cuidadoso, que em nenhum momento orientou, incentivou ou auxiliou sua fonte na obtenção do material de interesse jornalístico que lhe foi repassado”, disse Mendes.
Juristas de todos os matizes, entidades de classe, partidos políticos e jornais como o The New York Times condenaram com veemência e pedem a rejeição dessa denúncia em nome da democracia, da justiça, da liberdade de imprensa e de expressão. Toda solidariedade a Greenwald pelo seu importantíssimo e sério trabalho jornalístico em trazer a verdade à tona sobre acontecimentos da Operação Lava Jato. Todo bom jornalista incomoda atitudes ilícitas de poderosos. Inclusive porque o jornalista foi denunciado sem sequer ter sido investigado ou indiciado pela Polícia Federal.
*Foto de Jordana Mercado
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-SP).