Por José Reinaldo Carvalho (*)
O dirigente comunista José Reinaldo Carvalho comenta o discurso de Lula em ato político-cultural realizado nesta quarta-feira (18), no Rio de Janeiro, e defende a unidade das forças progressistas, democráticas, populares e patrióticas
Num dos seus pronunciamentos mais lúcidos desde que deixou a prisão política a que foi condenado pelos torquemadas da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um passo importante para a constituição de uma frente progressista no país.
Lula escolheu um palco privilegiado para executar um acorde mais afinado na sinfonia que vem tentando compor para enfrentar com êxito o desafio de barrar a ofensiva de Bolsonaro e toda a extrema-direita para impor um regime neofascista no Brasil. Perante os artistas, intelectuais e trabalhadores da cultura, a quem agradeceu o apoio na luta democrática por sua libertação, o líder popular proclamou a necessidade de construir uma frente progressista entre o PT, o PCdoB, o PSOL e parte do PDT.
A construção de uma frente progressista capaz de unir todas as forças suscetíveis de serem unidas na luta em defesa da democracia, dos direitos do povo e da soberania nacional é a tarefa central da esquerda.
Trata-se de uma exigência objetiva da situação. O povo brasileiro e as forças progressistas que lideram as suas lutas têm diante de si, como inimigo principal, o regime neofascista que se está plasmando, encarregado pela fração mais reacionária das classes dominantes e o imperialismo de liquidar a democracia, esfacelar os direitos do povo, cercar e aniquilar as forças de esquerda e alienar a soberania nacional.
A oposição ao governo de extrema-direita e a constituição de uma ampla frente progressista são ações indispensáveis e inadiáveis para todos os que não se conformam em ver o Brasil trilhando o caminho conducente ao abismo.
O país foi levado a uma situação em que não cabem ações conciliatórias com o inimigo nem vacilações ao enfrentá-lo. Não há meio termo. Ou se resiste e luta energicamente para inverter o caminho ruinoso apontado pelo governo ou o Brasil estará condenado a sofrer danos irreparáveis na sua construção como nação independente. O povo se degrada a olhos vistos, enquanto as políticas que Bolsonaro e seus sequazes apontam contêm mais e mais arrocho, desemprego, eliminação de direitos e subordinação ao imperialismo
A vigência de um governo com as características do atual – inimigo da democracia, da justiça social e da soberania nacional -, polarizador de uma base radicalizada de extrema-direita, não apresenta outra opção às forças progressistas além da resistência e da luta, não havendo margem para o entendimento com os usurpadores do poder nem negociação sobre redução de danos das suas políticas malsãs.
Uma ameaça fascista e neocolonialista só se enfrenta com luta frontal, o que torna um truísmo e uma boutade os anátemas que se ouvem contra a polarização da esquerda.
Desde que Lula saiu da prisão, a crítica à polarização foi o mote escolhido pelos formuladores e executores da estratégia de esterilização da esquerda, consistente em identificar o antagonismo entre as forças progressistas e a extrema-direita como radicalização artificial, sectarismo, hegemonismo e exclusivismo.
Mas a polarização pertence à realidade objetiva, queiram ou não os que apostam em soluções sem luta para os graves impasses políticos e sociais do país.
O desafio das forças de esquerda é encontrar os meios e modos de acumular forças, infundir confiança no povo, aglutinar aliados, conquistar as mentes e os corações da imensa maioria do povo brasileiro, erradamente designado como “centro” social.
Ao invés de se apegar a conceitos falhos de uma sociologia de fancaria, o que faz falta é um discurso e ações políticas que combinem radicalidade com amplitude. É nisso que se explicita a necessidade de construir uma frente progressista ampla.
Na nova situação política criada pela existência do governo Bolsonaro, a unidade entre as forças de esquerda e progressistas é o ponto de partida para uma aglutinação mais ampla de setores políticos e personalidades que num processo dinâmico se transforme em uma frente de caráter democrático, popular e patriótico capaz de liderar um movimento de massas com substância programática e horizonte estratégico.
À sua maneira e com seus próprios interesses, as forças mal denominadas de “centro” da política, que representam a oposição conservadora ao bolsonarismo e a direita tradicional, também buscam posicionar-se no novo quadro. Lutam por protagonismo político, pelo exercício da sua própria hegemonia e para fechar os espaços da esquerda. Com a habilidade própria das classes dominantes reacionárias adquirida em quase dois séculos de polarização entre frações da mesma classe, esta oposição conservadora, hoje liderada por Rodrigo Maia, do DEM, combina a aliança com o bolsonarismo na defesa da agenda econômico-social neoliberal e antipopular, com a defesa formal do Estado democrático de direito.
Também com sua metodologia peculiar voltada para interesses distantes dos da esquerda e das forças progressistas em sentido lato, posiciona-se Ciro Gomes, líder sectário de si mesmo, já incompatibilizado com alas de seu próprio partido. Afinal, durante o governo Lula o trabalhismo se reencontrou com a esquerda e considera um despautério a serviço da direita pôr no centro da atividade política o ataque a Lula.
Por óbvio, o esforço frentista amplo não exclui convergências pontuais e episódicas, mormente no âmbito institucional e parlamentar, na defesa do Estado democrático de direito, entre as forças progressistas e a oposição conservadora.
O discurso de Lula propondo a frente progressista tendo por núcleo o PT, o PCdoB, o PSOL e parte do PDT é uma novidade no quadro político atual, onde reina atá agora a fragmentação da esquerda, porquanto apresenta o desafio da unidade entre forças que a vida impõe que marchem juntas.
Na construção dessa unidade e da frente pela democracia é preciso considerar também com centralidade a organização e a mobilização popular.