Por José Reinaldo Carvalho (*)
O movimento pela paz e solidariedade com os povos, ameaçados e agredidos pelo belicismo das potências imperialistas, acaba de conquistar uma importante vitória política com a realização no último dia 7 de dezembro da 5ª Assembleia Nacional do Cebrapaz.
A escolha do cenário não poderia ser mais feliz – a cidade de Salvador, onde palpita o coração libertário do povo brasileiro, berço de nossa civilização, apanágio da liberdade e da independência nacional e de incontáveis lutas internacionalistas.
Foi significativo ter por sede o Sindicato dos Bancários, os proletários do capital financeiro, onde desde os anos 1980, núcleos da luta popular e internacionalista se reuniam para organizar ações em solidariedade aos povos em luta: Timor Leste, Palestina, Cuba e demais países socialistas. Foi ali que no começo dos anos 1990, teve sede o comitê organizador da visita do comandante Fidel Castro à Bahia, recebendo então o batismo de fogo da luta anti-imperialista e tornando-se o local de onde irradiaram muitos combates internacionalistas.
Em grande medida a sede da 5ª Assembleia do Cebrapaz foi um reencontro com suas próprias origens. O núcleo fundador desta organização social e política nacional, sob a liderança da camarada Socorro Gomes, atual presidenta do Conselho Mundial da Paz, teve desde sempre na sua base baiana um esteio fundamental sobre o qual se erigiu, em dezembro de 2004. Foi, assim, uma feliz coincidência, que se realizasse ali o ato de coroamento da gestão vitoriosa do camarada Antonio Barreto, que presidiu com brilhantismo o Cebrapaz no triênio 2016-2019.
A Assembleia foi uma reafirmação dos compromissos originais do Cebrapaz: lutar pela paz mundial, em solidariedade com os povos ameaçados e agredidos, no combate ininterrupto ao imperialismo. E uma plataforma a partir da qual se projetam as lutas futuras com um audacioso plano de ação.
A 5ª Assembleia do Cebrapaz teve clareza e unidade em torno do projeto de resolução política, que foi assertivo quanto à afirmação do trinômio paz, solidariedade e anti-imperialismo.
Este pronunciamento unânime torna evidente a vanidade e o propósito fragmentador, reflexo de uma visão metafísica funcional ao imperialismo – que pretende separar esses elementos indissociáveis, pretendendo que entre a luta pela paz, o combate anti-imperialista e a solidariedade, o Cebrapaz deveria dedicar-se apenas a este último.
O documento aprovado por unanimidade denuncia com clareza o plano de dominação global do imperialismo, nomeadamente o estadunidense, de exercício da hegemonia mundial por meio de uma guerra de amplo espectro, cujas consequências são as mais nefastas para a humanidade. É por este meio que o imperialismo empenha-se em impor a sua “nova ordem”, mais um “século americano” – ainda que isto a olhos visto seja hoje uma quimera.
Em nome dessa “ordem”, o imperialismo estadunidense emprega a força bruta, menoscaba o direito internacional, deprecia as instituições multilaterais, militariza a vida do planeta, atropela e instrumentaliza as Nações Unidas, tudo em nome da primazia dos seus interesses, em detrimento da paz e da soberania dos povos.
O movimento pela paz se afirma como tal opondo-se energicamente à estratégia de dominação do imperialismo. Sua plataforma é a antípoda a esses planos, é um programa de luta essencialmente anti-imperialista.
A solidariedade internacional é elemento essencial dessa luta, é a expressão do internacionalismo de massas, da diplomacia popular, um traço de união entre todos os momentos da história das lutas dos povos por sua soberania e independência, muitas das quais resultaram em revoluções populares vitoriosas. Encontram-se nesses episódios históricos as ideias de Simón Bolívar, José Martí, Lênin, Stálin, Ho Chi Minh, Mao Tsetung, Fidel Castro e tantos outros próceres das lutas anticolonialistas e anti-imperialistas.
O internacionalismo e a solidariedade entre povos, estão intrinsecamente ligados à luta pela paz e ao patriotismo popular. Só é internacionalista aquele que luta pela emancipação nacional e social de seu povo. E só é verdadeiramente patriota quem sabe que os combates pela independência nacional não terão conseqüência se não estiverem vinculados com as lutas dos demais povos irmãos.
Não há contradição entre o patriotismo e o internacionalismo, muito menos entre estes e a luta pela paz.
Esta visão tem muito a ver com o escopo da luta nacional. Na época do imperialismo, as classes dominantes locais exercem seu poder por meio das mesmas políticas chamadas globais e dos mesmos mecanismos supranacionais representados pelos dogmas neoliberais que consistem na abertura do mercado, no debilitamento do Estado nacional, nas privatizações etc. Esta é uma razão a mais para sermos internacionalistas. Porque essas políticas da burguesia internacional associada com as burguesias locais em grande medida se uniformizaram, uma vez que são as únicas correspondentes ao estágio atual do capitalismo.
O Brasil é um eloquente exemplo disso. Vivemos em nosso país uma época em que as classes dominantes abandonaram os interesses nacionais, ataram seus destinos aos do imperialismo e ao seu sistema econômico internacionalizado. Nessa medida, a burguesia monopolista-financeira brasileira traiu os interesses nacionais, tornou-se incapaz de conduzir qualquer processo de caráter democrático, ou nacional e soberano.
Não é possível ser nacionalista defendendo as políticas que a grande burguesia brasileira defende.
A política das elites nacionais é de aviltamento, fragilização e comprometimento da soberania nacional. O nacionalismo da classe dominante é falso. Nada mais falso do que o discurso “patriótico” do governo Bolsonaro, de generais como o ex-comandante do Exército que interveio brutalmente na vida política, e seus apaniguados na vida política civil, ou o discurso “democrático” dos partidos de direita autoproclamados como “centrão”. São falsos os discursos desses setores, seja em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento, seja do Estado democrático de direito. Cada qual com sua gradação, são agentes políticos funcionais ao imperialismo e ao regime das classes dominantes retrógradas.
A 5ª assembleia nacional do Cebrapaz foi a um só tempo a continuidade de uma definição conceitual e a renovação de um compromisso de luta. O objetivo central do Cebrapaz – proclamado mais uma vez nesta assembleia – é derrotar as estratégias do imperialismo norte-americano, sua política de guerra, seus dogmas neoliberais, a ofensiva brutal que move contra a paz, a soberania nacional, a democracia e os direitos dos povos. É disso que emana a plataforma aprovada na última assembleia nacional e o plano de ação e lutas aprovado.
Para levar adiante essas lutas foi eleita uma direção nacional sob a liderança do camarada Jamil Murad e na qual tenho a honra de participar na condição de secretário-geral.
Durante os próximos três anos do nosso mandato não faltará entrega e empenho em nome da paz, da solidariedade e do anti-imperialismo.
(*) Jornalista, editor de Resistência, secretário-geral do Cebrapaz