O Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região (MG) – umas das mais importantes entidades sindicais operárias do País – acaba de concluir uma pesquisa sobre a realidade da categoria metalúrgica. Com base no depoimento de trabalhadores do setor, o levantamento – ao qual o Vermelho teve acesso – mostra um painel de impressões, desconfianças, temores e expectativas. Mostra, enfim, a nova mentalidade dos metalúrgicos, em meio às dificuldades do mundo sindical e aos ataques do governo Jair Bolsonaro.
O trabalho foi conduzido pela cientista social e professora Elisabeth Pereira do Santos, que é especializada em Políticas Públicas e dá aulas na pós-graduação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Com mais de 25 anos de experiência em pesquisas qualitativas, Elisabeth recorreu à técnica de grupo focal para sondar a opinião de trabalhadores das indústrias de Betim e Região, sócios e não sócios do Sindicato.
Um dos principais objetivos da pesquisa foi sondar a avaliação da entidade junto à sua base. Mas, como ocorre na maioria dos grupos focais, vários temas são propostos e debatidos livremente, permitindo conclusões que extrapolam os objetivos iniciais. Abaixo, o Vermelho destaca cinco dessas conclusões que valem não apenas para Betim – mas para o conjunto dos metalúrgicos em todo o País.
1) O medo do desemprego
Os metalúrgicos se sentem “apreensivos e preocupados” com a crise econômica. Mesmo com a sensação de privilégio por trabalharem com carteira registrada, não escondem o medo do desemprego. “Os trabalhadores perderam a capacidade de planejar a vida a médio e longo prazo”, aponta a pesquisa. O receio de perder o emprego é ainda maior entre os metalúrgicos mais velhos. Segundo eles, caso sejam cortados antes de se aposentarem, terão “poucas chances de voltarem para o mercado de trabalho”.
Além do cenário adverso do Brasil (desindustrialização, estagnação econômica, golpes e retrocessos políticos), a categoria também vive “os temores paralelos relacionados às inúmeras e aceleradas transformações no mundo do trabalho: a automação, a perda de direitos e precarização das atividades, a competitividade, a necessidade de qualificação constante, a frustração de quem se qualifica e não é absorvido pelo mercado”.
2) Falta de segurança nas fábricas
Outra causa de preocupação dos metalúrgicos é a “rotina na fábrica”, em especial os riscos de acidentes de trabalho. No grupo focal, “os participantes relataram, comovidos, a morte recente de colegas nas fábricas (…). Reconhecem que tem havido mais investimentos nessa área, por parte das empresas, mas se mostram indignados porque ainda não são suficientes para coibir os acidentes”.
Uma percepção generalizada – e fácil de entender – é que os patrões só tomam medidas de proteção depois dos acidentes. Ao mesmo tempo, fazem autocrítica e confidenciam que “os trabalhadores não introjetam a cultura da prevenção nas atividades cotidianas”.
3) Reconhecimento do papel do sindicato
A campanha de demonização do movimento sindical não foi inteiramente vitoriosa. A categoria compreende a importância do sindicato na relação entre capital e trabalho. Entende, ainda, que as entidades estão com dificuldades. “O sindicato seria um apoio para o trabalhador, mas também está mais fragilizado no momento, tanto financeira como politicamente.”
De qualquer maneira, “o sindicato é visto por muitos como indispensável para a preservação e conquista de direitos”. Além disso, é positiva a avaliação do conjunto de serviços prestados pelo sindicato – desde, claro, que a divulgação e o usufruto de tais iniciativas sejam generalizados. “Esses serviços são bem avaliados e percebidos como indispensáveis até para quem conta com eles na empresa”, sustenta o levantamento.
4) Anseio por informações
De forma contraditória, os trabalhadores metalúrgicos rejeitam, cada vez mais, veículos tradicionais da imprensa sindical, como jornais e boletins – mas deixam claro que sentem falta de mais informações e até opiniões do sindicato. Resistem, também, a participar de assembleias ou a contribuir financeiramente. “Mas desejam a união e o engajamento da categoria”.
Sem uma comunicação que atenda a tais exigências, o sindicato pode ficar mais vulnerável a ataques, fake news, boatos e preconceitos, perdendo força para dar respostas à altura. “O que realmente podemos perceber” – indica a pesquisa – “é que o sindicato não está conseguindo criar uma narrativa que faça frente a essas impressões”. Como se trata de um “um público que é vigiado constantemente pela empresa”, os próprios trabalhadores “sugerem a utilização das mídias sociais”.
5) Trabalho de base
Se a comunicação precisa, necessariamente, ser atualizada e modernizada, o velho trabalho de base ainda é um dos trunfos do sindicato junto aos trabalhadores. De acordo com a pesquisa, os metalúrgicos “querem ser ouvidos de perto e com frequência”. Seus representantes nas empresas, “quando conhecidos, são bem avaliados”.
A atuação de dirigentes e representantes sindicais na base, com conhecimento de causa e disposição ao diálogo, é – ao lado das conquistas – um dos diferenciais do sindicalismo nestes tempos obscuros. É que faz o sindicato ser visto como “um aliado” dos trabalhadores contra os abusos da empresa e os efeitos da crise econômica.
André Cintra
Via Portal Vermelho