Novos horizontes vão aparecendo na América Latina, ou Latino América, como dizem nossos vizinhos que falam castelhano.
No início desse semestre, o presidente mexicano Manuel Obrador, interpelado em entrevista sobre prognósticos do FMI, disse ver com desconfiança esse organismo, pois que ele “causou muitos danos ao México”. E acrescentou: “o FMI não mais imporá sua agenda de desgraças ao México”. “Agenda de desgraças”!!! Assim falou o presidente mexicano. Só que essa agenda, o FMI já impôs a toda a América Latina, tendo enorme responsabilidade nos problemas por que passa nosso subcontinente.
Agora, nesse final de outubro, novas notícias positivas sucederam.
No Chile, o povo se levantou, fez passeatas memoráveis, barrou investidas antipopulares do governo, pôs abaixo a falsidade de que o neoliberalismo fora bom para o país e sinalizou que não mais aceitará esse caminho, que terá que ser mudado. A repressão baixou forte, matou 19 pessoas. Mas o povo não se dobrou.
No Equador, também a mobilização popular mostrou ser o caminho do despertar da esperança e protestos levaram o presidente-traidor a abandonar a capital e refugiar-se no interior.
Na Bolívia, Evo Morales, primeiro índio eleito presidente da República, retorna à presidência, para mais uma etapa progressista de governo.
E no dia 27, na Argentina, Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, numa composição de centro-esquerda, ganharam a eleição em primeiro turno. Foi uma enorme vitória para a América Latina e uma vitória ilustrativa do caminho seguido por eles, a unidade apesar das diferenças.
Nesse mesmo dia 27, no Uruguai, também as forças democráticas tiveram expressiva vitória. O candidato Daniel Martinez, da Frente Ampla, de esquerda, ficou em primeiro lugar com 41% dos votos. O candidato Luis Lacalle Pou, de centro-direita, recebeu 30% dos votos. Portanto, pela legislação local, haverá um segundo turno. Mas nesse segundo turno, o candidato da extrema-direita Guido Ríos, chamado de “o Bolsonaro uruguaio”, não participará, porque só conseguiu 9,6% dos votos e ficou em quarto lugar. Está fora do processo.
No Brasil, o dia 27 teve uma peculiaridade. Encontrou um ilustre aniversariante preso por razões políticas, mas presenciou também aglomerações em inúmeras cidades do país cantando-lhe o “parabéns para você”, e exigindo a libertação do preso querido Luis Inácio Lula da Silva.
O povo brasileiro escutou o recém-eleito presidente da Argentina, na hora de sua eleição, dizer do aniversariante Lula: “É um homem extraordinário, injustamente preso há um ano e meio”, e acrescentar: “Feliz aniversário, querido Lula. Espero te ver em breve”. É o que esperamos também.
Nesse quadro, recolhemos do Chile a lição estupenda de que, o que a direita considerava um reduto onde o neoliberalismo deu certo, revelou-se um desastre de onde o neoliberalismo tem de ser extirpado.
Ficou claro também que o modelo neoliberal aplicado desastrosamente no Chile, particularmente com a chamada “capitalização da previdência”, era o que o Ministro Paulo Guedes queria impor no Brasil, com o apoio do Bolsonaro, para arrebentar a aposentadoria dos trabalhadores brasileiros, mormente dos mais pobres.
Nesse final de outubro, apareceu ainda uma gravação do fatídico Fabrício Queiroz, na qual ele mostra que ainda está fazendo nomeações políticas, pedindo dinheiro para isso, dizendo que “há mais de 500 cargos” e que está por dentro do funcionamento do gabinete do senador Flavio Bolsonaro.
A deputada Joice Hasselmann, ex-pessoa da maior confiança do governo, ex-líder de Bolsonaro no Congresso, depois que foi às turras com o governo, revelou que funciona no Palácio do Planalto uma “sala da maldade”, ou “gabinete do ódio”, que faz o trabalho sujo, pratica crimes, assassina reputações e pode até demitir ministros, como fez com o general Santos Cruz!
O famoso político e tribuno da antiga Roma, Marcos Túlio Cícero, denunciando abusos do senador Catilina, ainda antes de Cristo, clamou com vigor: “Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” que quer dizer, “Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?” E continuou: “Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?”
Até quando?
Haroldo Lima, engenheiro e ex-diretor da ANP.