Por Marcos Aurélio Ruy
Em homenagem à Francisca Edwiges Neves Gonzaga, conhecida como Chiquinha Gonzaga, que nasceu em 17 de outubro de 1847, em maio de 2012, foi sancionada a Lei 12.624, criando o Dia Nacional da Música Popular Brasileira. Além de ser uma mulher livre, a compositora carioca foi a primeira a compor uma marchinha de carnaval, a conhecidíssima Ó Abre Alas, de 1899.
Chiquinha Gonzaga faleceu em 28 de fevereiro de 1935, mas deixou a sua marca em diversos grandes músicos brasileiros. Ela também foi pianista, regente e fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, em 27 de setembro de 1917.
Ó Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga
Antes de mais nada é necessário distinguir duas coisas: se insere na música popular brasileira toda produção musical de cunho popular feita no país, isso abrange o chorinho, o samba, o maxixe, o frevo, o forró, o baião, a música caipira, a moda de viola, o rock, o rap, o funk e outros gêneros musicais.
Já a denominação MPB se originou por causa de grandes compositores surgidos a partir dos anos 1960. Como os críticos não tinham como definir propriamente a que gênero musical essas canções pertenciam, chamaram de MPB, que acabou e tornando um gênero musical bastante amplo.
Se há uma expressão artística do país que não deve nada a ninguém é a nossa música popular, rica e diversificada. Chamado de “maestro soberano” na canção Paratodos, de Chico Buarque, Tom Jobim (1927-1994) disse certa vez que existe a música norte-americana, a cubana e a brasileira, “o resto é valsa”. Exageros à parte, o que Jobim quis dizer é que a música popular brasileira é respeitada e admirada em todo o mundo.
Foi Jobim que sistematizou a bossa nova, movimento dos anos 1950-60 que transformou a música popular brasileira e influenciou tudo o que veio depois. Até a tropicália, a jovem guarda e o manguebeat, altamente influenciados pelo rock.
Inclusive a identidade nacional do país foi forjada através do samba, gênero musical genuinamente brasileiro, mais enraizado nacionalmente, mesmo com suas diferenças regionais, nos anos 1930-40. Lembrando que a maioria dos nossos ritmos têm o continente africano como matriz, com influência indígena e europeia.
Paratodos, de Chico Buarque
A música popular brasileira deve ser reverenciada em todos os sentidos por marcar tanto a vida do país ao transmitir em versos e acordes todo o sentimento de uma nação na labuta diária contra o complexo de vira-latas, que menospreza tudo o que tem origem popular e venera qualquer coisa que venha de fora.
De Pixinguinha (1897-1973) a Chico Science (1966-1997), a música popular brasileira canta os amores, as dores, a vida de um povo único, que é bem “mais sábio que quem o quer governar”, como dizem os versos de Notícias do Brasil, de Fernando Brant e Milton Nascimento.
Aliás, Milton Nascimento, em entrevista recente, falou que faltam talentos na música popular brasileira contemporânea, num desconhecimento total da força dos novos talentos que estão aí para mostrar que a nossa música se renova constantemente e, portanto, “o novo sempre vem”, como bem disse Belchior em Como os Nossos Pais.
Por tudo isso, vê-se que a música popular brasileira expressa o nosso cotidiano e nos renova todos os dias na força de resistir e batalhar pelo novo, pelo Brasil dos nossos sonhos, sem desigualdades tão estarrecedoras.
Festa Imodesta, de Caetano Veloso
Nestes tempos sombrios, marcado pelo culto ao desconhecimento, pela discriminação, pelo ódio e pela violência é fundamental valorizar a música popular brasileira, pela qual um grande número de autoras e autores que se firmaram e se firmam contra o status quo, em defesa da liberdade e da justiça.