Da Rede Brasil Atual:
O presidente do Equador, Lenín Moreno, anunciou neste domingo (13) a revogação do decreto 883, que eliminou os subsídios aos combustíveis. A medida tenta pôr fim a 11 dias de protestos liderados por comunidades indígenas e acompanhados por movimentos de trabalhadores, estudantes e organizações civis contra as medidas econômicas anunciadas para atender a um acordo assinado com o FMI. A decisão é considerada uma vitória parcial da resistência popular, uma vez que os protesto evoluíam para exigir a renúncia de Moreno e a convocação de novas eleições.
O saldo das manifestações deixou sete mortos pela repressão militar e centenas de feridos. Apesar da escalada repressiva nunca antes vista, os indígenas e demais setores da população mantiveram a resistência, obrigando o governo a recuar e negociar.
Antes do anúncio da revogação do decreto, Moreno se reuniu com o presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) Jaime Vargas, que também exigiu a demissão imediata dos ministros do Governo, Maria Paula Romo, e da Defesa, Oswaldo Jarrín, apontados como os responsáveis pela repressão. O presidente não se pronunciou sobre tal exigência e anunciou que substituirá o decreto “por um novo que contenha mecanismos para focalizar os recursos a quem mais necessita”, o que pode ser um novo foco de disputa e instabilidade.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves, a “lição” da onda de protesto é que um governo não pode obedecer “cegamente” às determinações de um organismo internacional, que não tem responsabilidade social com as populações locais, principalmente os mais pobres. “Não era possível usar de mais violência para obedecer ao FMI. Uma vez desfeito esse decreto, o que se espera é que negociem democraticamente”, afirmou o professor ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (14).
Posição do Brasil
Gonçalves também classificou como “completamente inadequada e inconveniente” a posição do ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Pelo Twitter, ele atribuiu a crise no Equador à atuação de “forças de esquerda” que estariam tentando derrubar o presidente Moreno. “Quem respondeu a isso não foi a esquerda ou o Foro de São Paulo. Trata-se de uma fantasia que habita a cabeça delirante do ministro. O que houve foi uma reação popular contra uma medida que prejudica os interesses da população.”
Além do “delírio ideológico”, o professor da UERJ disse ainda que Araújo não se comporta como um verdadeiro chanceler e trai a tradição diplomática brasileira de não interferir em assuntos internos de outros países. “Ele, sim, é um subversivo. A tradição diplomática do Brasil é de não se envolver nos assuntos de outros países – a não ingerência. Quem diz defender a soberania de seu país, por uma questão de coerência, não pode fazer intervenções dessa natureza.”