Por Francisca Rocha*
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo homologou em agosto o Currículo Paulista da Educação Infantil e Ensino Fundamental e, nesta sexta-feira (20), inicia um curso preparatório para a implementação desse currículo, elaborado sem debate com os setores mais envolvidos com a educação pública do estado. As professoras e professores não foram ouvidos, menos ainda os estudantes e seus pais.
Mais uma vez o governador João Doria mostra a sua face autoritária e elitista. O Currículo Paulista beneficia somente os empresários da educação porque fortalece os valores da classe dominante e ignora as filhas e filhos das trabalhadoras e trabalhadores.
Somos mais de 200 mil professoras e professores entre concursados e temporários forçados a dar aula em duas ou três escolas para conseguir um salário razoável para sustentar a família com muita dificuldade e o Currículo Paulista pinta uma realidade de país de Primeiro Mundo e assim mesmo privilegiando os habitantes de maior poder aquisitivo. Porque a proposta pedagógica de cada escola será aplicada de acordo com as possibilidades determinadas em cada escola e essas possibilidades dependem em grande parte da questão financeira.
O Censo Escolar de 2015 mostrou a existência de 10.051.652 estudantes no estado de São Paulo. Já o Cadastro de Alunos 2019 mostra que são 7.433.331 alunos matriculados na educação básica paulista, sendo 699.954 na rede particular, 3.241.473 na rede estadual e 3.491.994 nas redes municipais, com 2.404.808 nos anos iniciais do ensino fundamental, 1.983.352 nos anos finais, 1.603.602 na educação infantil, além de 1.441.569 no ensino médio.
Mesmo com esses números gigantescos, as escolas paulistas estão abandonadas, sem recursos para nada, necessitando de reformas. Elas não têm laboratórios de ciências, quadras esportivas, biblioteca, computadores para os alunos, nenhum ou muito pouco espaço para as aulas de artes.
Assim como a BNCC, o novo currículo de São Paulo não enfatiza as disciplinas que valorizam a participação do estudante, muito menos o desenvolvimento criativa com as disciplinas de Filosofia, Artes, História, Geografia, Sociologia, Psicologia e de corpo e movimento com a Educação Física.
Enfatiza o tecnicismo e o estilo para decorar os conteúdos para não repetir de ano. Enfim enfatiza a censura aos profissionais da educação e o autoritarismo.
Assim como fizeram Michel Temer e Jair Bolsonaro em sequência na questão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Baixaram as normas sem nenhum diálogo com os movimentos organizados da educação e da sociedade civil. Impõem as suas normas com vistas à privatização da educação, eximindo o Estado de suas responsabilidades constitucionais.
O Currículo Paulista reitera dez competências gerais da BNCC. Essas competências versam sob re educação democrática e inclusiva, exercitar a curiosidade intelectual, escola de tempo integral, valorizar as manifestações culturais e artísticas, inclusão digital, respeitar a diversidade, respeitar as questões de gênero, enter várias outras elencadas pela BNCC.
Na prática nada funciona. O objetivo central é a privatização do ensino público bem como terceirização da mão de obra, o que já prejudica de antemão as professoras e professores, assim como aos estudantes, essencialmente aos menos privilegiados.
Prevalece a visão autoritária do governador do estado, João Doria. Enfatiza-se o chamado Projeto de Vida, que nada mais é do que adequar o ensino ministrado às necessidades do mercado de trabalho, sem nenhuma preocupação maior com o desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças e jovens formando cidadãs e cidadãos conscientes, críticos e criativos.
Não é nada do que eles querem. Assim como Bolsonaro, Doria que um ensino mecanicista e tecnicista, sem pensamento. Por isso tanto o presidente quanto o governador defendem o projeto Escola Sem Partido, que na realidade é a escola sem pensamento, sem conteúdo, sem qualidade, sem nada.
Aliás a Escola Integral que defendem sugere apenas aglomerar mais estudantes por mais tempo na escola, sem preocupação com as necessidades que mais tempo na escola exige. Uma escola de tempo integral deve ter ensino de artes, esportes, informática junto com as disciplinas comuns, além de se preocupar e fornecer café da manhã, almoço e lanche da tarde.
Isso porque estão elaborando currículos para favorecer meia dúzia de gatos pingados, justamente aqueles que moram em bairros com habitantes de maior poder aquisitivo. Na realidade, o novo currículo repete a cantilena de sempre da elite paulista arcaica em defesa de seu status quo e subordinação da classe trabalhadora.
Fonte: Brasil 247
*Secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-SP).