Por Marcos Aurélio Ruy
Em maio deste ano Chico Buarque foi anunciado como vencedor do Prêmio Camões de literatura pelo conjunto de sua obra. A premiação lhe concedeu € 100 mil, que equivale a aproximadamente R$ 460 mil. Metade deve ser paga pelo governo brasileiro, no valor de € 50 mil (R$ 260 mil) para o cantor, compositor e escritor carioca, um dos seus maiores opositores.
É público e notório o ódio que o presidente Jair Bolsonaro nutre pelo autor carioca, que sempre lutou em favor da democracia e da liberdade, pelo respeito aos Direitos Humanos, pela igualdade de gênero e por direitos iguais na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.
O prêmio é concedido pelos governos de países que falam a língua portuguesa e em sua 31ª edição, o autor brasileiro, de 75 anos, saiu vencedor. A coluna Radar, da revista Veja veio com a notícia de que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa já assinou a premiação e a enviou ao Palácio do Planalto e Bolsonaro terá que assinar e pagar metade do prêmio ao autor.
De acordo com a coluna, o documento, em três vias, está no gabinete do ministro da Cidadania, Osmar Terra a quem a Cultura está subordinada. Chico Buarque foi escolhido por unanimidade pelo júri formado por representantes de Brasil, Portugal, Moçambique e Angola. O prêmio será entregue em uma cerimônia em Lisboa.
O Prêmio Camões foi criado em 1988 e é considerado o principal prêmio da literatura em língua portuguesa. Chico é o 13º brasileiro a levar a honraria.
Pelas ironias da vida, esse documento chega ao governo brasileiro que no momento está envolto a uma censura feita pelo Itamaraty à exibição do documentário Chico Buarque – Artista Brasileiro (2016), de Miguel Faria Júnior, no festival de cinema brasileiro que ocorrerá em Montevidéu, em outubro. Em setembro o colunista de O Globo, Ancelmo Gois publicou a denúncia sobre a censura ao documentário feita pela produtora uruguaia JBM Produciones.
Conhecidos por suas obras contestadoras ao cantar todos os temas que estão entre o céu e a terra, Chico Buarque é bastante atuante em defesa da democracia e da liberdade, marcando presença em atos contra a censura, Chico Buarque acumula ódio de uma direita ressentida, caótica e ignóbil, da qual Bolsonaro é um dos notórios representantes.
Opositor ferrenho às sandices do presidente Jair Bolsonaro contra a democracia e os interesses nacionais. Além de liquidar com os direitos da classe trabalhadora e entregar as riquezas nacionais à fúria do capital nacional e internacional. Chico Buarque é atuante na campanha pela liberdade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defende a formação de uma Frente Ampla para derrotar o neonazismo representado por Bolsonaro.
“Hoje é o dia da graça/Hoje é o dia da caça e do caçador”, canta Chico Buarque na música Caçada, de 1973. Muito apropriada ao momento.
Talvez Bolsonaro se negue a assinar o documento e pagar o prêmio merecido de Chico Buarque, fazendo o Brasil passar vergonha mais uma vez.
Ouça Caçada, de Chico Buarque