Sem respostas para a saraivada de críticas que vem recebendo pela conduta e discursos hostis ao meio ambiente e à Amazônia, o ministro de Bolsonaro contra o Meio Ambiente, Ricardo Salles, insinuou nesta segunda-feira (9) em São Paulo que os “governos anteriores” e sua “mentalidade sindicalista” são os vilões do fogo que está consumindo a floresta.
Em sua tosca teoria, a responsabilidade de tais governos deve-se ao suposto fato de “incharem a máquina pública”, afetando duas das principais instituições ambientais brasileiras, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
“Tivemos governos anteriores que incharam a máquina pública, contrataram políticas públicas, uma serie de despesas, sem preocupação com meritocracia e metas”, afirmou o ministro quando questionado sobre a atuação do ICMBio e Ibama no atual governo. “Essa mentalidade sindicalista arrebentou nosso país”, acrescentou.
Inversão dos fatos
A teoria do desmoralizado Salles, um político financiado pelos ruralistas e conhecido nos círculos ambientalistas como inimigo juramentado da Natureza, não tem fundamento na realidade e, mais do que isto, constitui uma verdadeira inversão dos fatos. Os governos anteriores a que se refere, em particular os de Lula e Dilma, foram os que mais investiram na proteção da floresta.
Nos governos de centro-esquerda liderados pelo PT o desmatamento recuou 82% e em 2014 o Brasil foi referência mundial na proteção das florestas. “As mudanças na Amazônia brasileira na década passada e sua contribuição para retardar o aquecimento global não têm precedentes”, é o que se lê no relatório da ONU publicado em julho daquele ano sob o sugestivo título “Histórias de sucesso no âmbito do desmatamento”.
o desmatamento recuou 82% e em 2014 o Brasil foi referência mundial na proteção das florestas. “As mudanças na Amazônia brasileira na década passada e sua contribuição para retardar o aquecimento global não têm precedentes”, é o que se lê no relatório da ONU publicado em julho daquele ano sob o sugestivo título “Histórias de sucesso no âmbito do desmatamento”.
Bolsonaro mudou radicalmente tal política, agredindo os ambientalistas, os povos indígenas, as ONGs que defendem a preservação da floresta e enaltecendo ao mesmo tempo a obra de destruição patrocinada em boa medida por fazendeiros e grileiros ligados ao agronegócio, além de reduzir drasticamente a fiscalização.
A política do presidente da extrema direita foi interpretada por madeireiros, grileiros e fazendeiros como um sinal verde para o desmatamento e a devastação da Amazônia. Em julho deste ano, o primeiro do atual governo, o desmatamento avançou nada menos que 278%, alavancando as queimadas que acabaram provocando uma onda mundial de indignação e ácidas críticas.
Refúgio dos canalhas
O capitão reformado também carece de respostas concretas e plausíveis para a crise que ele próprio produziu e se refugia atrás de um tosco e falso nacionalismo, afirmando que é necessário defender a Amazônia da cobiça internacional e sugerindo que as advertências contra o desmatamento fazem parte de uma conspiração neocolonialista. Quanto patriotismo.
Não convém negar a existência de interesses obscuros em relação à região, cuja riqueza em minerais e biodiversidade é hoje imensurável. Mas quem há de acreditar no patriotismo daquele que bateu continências à bandeira dos EUA e jurou lealdade a Donald Trump, comportando-se como um autêntico lacaio do imperialismo americano? Com todo respeito aos verdadeiros patriotas brasileiros, neste caso cai como uma luva a famosa frase do escritor inglês Samuel Johnson (1709/1784): “O patriotismo é o último refúgio do canalha”.
Arquitetura da destruição
Conforme notou o jornalista Wanderley Preite Sobrinho, no site Uol, desde o início da gestão Bolsonaro, a quantidade de multas aplicadas pelo Ibama por desmatamento ilegal caiu. O ministro Salles chegou a criminalizar publicamente fiscais que destruíram os equipamentos usados por madeireiras em uma Unidade de Conservação no Pará, numa vergonhosa e indisfarçável defesa do desmatamento. Na ICMBio, a estratégia foi militarizar a instituição: Salles nomeou cinco Policiais Militares para a diretoria do instituto.
O ministro também faltou com a verdade quando negou que o governo venha “desmontando” a estrutura ambiental do Brasil. A arquitetura da destruição promovida pelo governo Bolsonaro não se limita ao meio ambiente. É visível na Educação, na saúde pública (o SUS está à míngua), na Petrobras e outras estatais, no pré-sal (que está sendo entregue ao capital estrangeiro), na Previdência e na infraestrutura.
A desgraça não começou neste ano. Teve início com o golpe de 2016 e vem sendo notoriamente radicalizada pelo presidente da extrema direita. É o efeito da restauração neoliberal, que tem por forças motrizes o insensato congelamento dos gastos públicos primários por 20 anos, a destruição do Direito do Trabalho e da Previdência, o empenho da soberania nacional e golpes recorrentes contra a frágil e fugaz democracia brasileira.
A “mentalidade sindicalista” referida com indissimulável ódio pelo ministro de Bolsonaro caracteriza-se pela defesa do meio ambiente e da Amazônia, bem como do desenvolvimento nacional com soberania, democracia e valorização do trabalho. É bem o contrário do que estamos vendo e vivendo desde o golpe travestido de impeachment que afastou injustamente a presidenta Dilma da Presidência em 2016 e dois anos depois culminou na condenação sem provas e prisão de Lula para abrir caminho ao governo de extrema direita, que está destruindo o Estado nacional, a pretexto de salvar o Brasil do comunismo e do PT.
Umberto Martins